sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sempre o melhor?!

 

      O ser humano adora classificar. Classificamos tudo:  seres vivos (taxonomia), carros, amigos, desempenho escolar, escolas, times de futebol, condições financeiras, beleza... enfim, tudo!
      O perigo está em se tornar escravo dessa classificação. Parece que, para algumas pessoas, é preciso ser o melhor aluno, da melhor escola. É preciso conseguir a melhor classificação para obter as melhores vagas, nos melhores concursos. Caso não consiga, a sensação que se tem é de fracasso. Não importa que suas conquistas estejam acima da média, se não for o melhor, isso não é suficiente.
      Esse é o meu receio em relação aos alunos olímpicos. Existem muitos alunos extremamente bons. Mas, como em qualquer competição, apenas poucos recebem as melhores medalhas. Nem sempre as provas parecem justas a todos os participantes, e muitos se sentem injustiçados ou até desanimados.
      Assim será ao tentar estudar fora. Com o critério holístico, vários fatores podem parecer meio abstratos, mas serão determinantes na seleção. Isso poderá não parecer "justo".
      Outro conceito errôneo da classificação é generalizar conteúdo pelo continente. Como se, por exemplo, só porque estuda na escola melhor classificada no ENEM, você é um melhor aluno. Infelizmente, sabemos de casos de pais que insistem em escolher as escolas que são as melhores para outros alunos, e não especificamente para seu próprios filhos.
      Isso não tem fim. Conheço muitos excelentes alunos que nem sabiam ao certo qual o vestibular prestar, então escolheram Medicina USP e ITA, só porque eram os mais difíceis. Alguns fixam sua meta em entrar somente no MIT ou em Harvard.
   
      Quando estamos diante de alunos de altíssimo potencial acadêmico existe uma tendência em se comparar seus resultados. Pode transparecer que aquele que ganhou a medalha de ouro tem um conhecimento muito maior do que o que ganhou a de prata, mas isso não é verdade. Alguns se sentem "rebaixados" porque não foram os classificados em uma ou outra seletiva.
      A realidade com relação às olimpíadas é que apenas um número pequeno de alunos pode representar o Brasil em uma olimpíada internacional. É claro que esse é um sonho incrível. Ao não ser selecionado o chão pode parecer que sumiu. Mas, para aquele aluno brilhante sempre existirão inúmeras oportunidades. É extremamente importante que eles enxerguem que estudam para se desenvolver e não apenas para ganharem uma medalha ou para serem selecionados em algum determinado concurso. Talvez, aqui é que entra o nosso papel de pais, que muitas vezes somos os que mais sofremos, porque testemunhamos todo o empenho e esforço, e sabemos mais do que ninguém o quanto nosso filho mereceria alcançar o que busca. Tem hora que até dói mais na gente do que neles mesmos.

      Quanto à escolha de universidades, às vezes ouço que um aluno quer por tudo entrar em Harvard (ou MIT), quase que dizendo que qualquer outra universidade seria apenas um "prêmio de consolação". Eu diria que quem pensa assim, mostra uma certa ignorância (no bom sentido da palavra) em relação às opções até melhores que pode ter. A escolha deve se basear em uma análise minuciosa entendendo o que se quer buscar, refletindo sobre sua personalidade, suas preferências comparando com as atividades extracurriculares, localização, tamanho da universidade, custo, possibilidades de bolsa, número de professores, de brasileiros, etc.
      Nos EUA não existe este conceito de que somente Harvard ou MIT são as melhores. Na realidade, existem inúmeros rankings sobre as "melhores universidades" (THE: Times Higher Educations, QS World Universities, US News ranking, etc). No entanto, a  "número 1" em um determinado ranking, pode ser a número 10 em outro. Por que ocorre isso? Porque tudo depende de quais critérios estão sendo avaliados, e, nem sempre esses critérios são fundamentais para suprir o que determinado aluno busca na sua experiência universitária. Então, a escolha de qual a sua prioridade de opção deve ser extremamente pessoal. Por exemplo, tenho um amigo que fez Harvard, e me confessou que sofreu demais com o inverno de lá, e, se pudesse voltar atrás, teria escolhido estudar na Califórnia.
   
      Como pais, também precisamos estar atentos ao grau de frustração de nossos filhos. De uma forma geral, a grande maioria tem um alto grau de resiliência. Puxa, é incrível como esses alunos sabem dar a volta por cima. Mas, por outro lado, alguns alunos se decepcionam a ponto de desistirem de estudar ou entrarem em depressão.
      Imagina aquele aluno que sempre foi "o melhor" da escola. Ao entrar em uma universidade extremamente concorrida, ele estará só entre os melhores do mundo inteiro. Então, dificilmente seu destaque será o mesmo. Em geral, muitas universidades têm um alto grau de espírito competitivo entre os alunos. Lá, estará sozinho, às vezes sem o tipo de vínculo de amizade como a conhecemos no Brasil (o conceito de amizade que temos aqui é muito diferente do que é no resto do mundo). Tem alunos que se atrapalham com suas novas rotinas (nunca morou sozinho antes), com a língua, com a comida, tem a liberdade de poder beber e quem sabe até se envolver com drogas (siimmm, isso ocorre tão frequentemente como em qualquer outra universidade), com a quantidade de horas de estudo que precisa ter... Enfim, passa uns bons "apertos".
   
      Na realidade, arrisco-me a dizer que, se o aluno passou por algumas grandes frustrações em sua vida pré-universitária, ele estará muito mais amadurecido para enfrentar o futuro. Em outras palavras, esse pode ser o "lado bom" das grandes decepções ao não ir bem em uma ou outra olimpíada.
      Nessa busca pelo título de "o melhor", talvez quem mais lucre são os que descobrem que não o são. Tanto é verdade, que muitas universidades pedem para que se escreva um "essay" contando sobre seus maiores fracassos. É na adversidade que se amadurece. Aquele que sempre só ganhou, nunca foi testado o suficiente. Ser bom em tudo, é porque não ousou testar além de seus limites. E, a vida não será feita só de acertos, muito pelo contrário!
      Então, a mensagem que eu gostaria de tentar passar, é que aprende-se muito mais com o fracasso do que só com a medalha de ouro! Que nossos filhos consigam valorizar muito cada "derrota"!
   

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