quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Enfim, lá se vão eles!

      Há 23 anos atrás, era eu quem embarcava para um intercâmbio no Exterior. Eu tinha acabado de terminar a residência em Otorrinolaringologia e ganhei uma bolsa de 1 ano para estudar no Japão.
    Imagina o que era o intercâmbio em uma época que não existia internet. Fazer uma ligação internacional era muito caro. Dependia de cartas postadas no correio para saber das notícias.
      O Brasil vivia a época da hiperinflação, quando o preço de tudo aumentava todos os dias. Assisti o impeachment de Collor lá de fora. Na época, senti orgulho de ser brasileira. Os jornais noticiavam que os jovens "cara-pintadas", de forma totalmente pacífica, como um grande carnaval,  conseguiram depor um presidente, e isso, sem violência!
      Enfim, já senti na pele o que é viver longe de casa!
         
    Durante o primeiro mês tudo era maravilhoso! A gente ri de tudo. Como não sabia ler tão bem os ideogramas japoneses, não sabia se aquele pacote de "pó branco" era sal ou açúcar. Tudo funcionava perfeitamente, o trem passava exatamente às 7:52hs. Tinha meu cantinho em um alojamento com mais outros 4 brasileiros e 7 latinos. Fazíamos as refeições juntos, e como eu conhecia vários bolsistas brasileiros pelo Japão inteiro, viajava bastante nos fins de semana.
     O tempo vai passando, algumas dificuldades vão surgindo, a saudade aperta, a euforia diminui e a rotina toma conta. O povo japonês é mais frio e trabalham demais. Ligar para o Brasil era muuiiito caro!
      Vinham momentos em que o que mais eu sentia falta e dava valor era a minha própria família!!! Nunca havia sentido quão importante era a minha família. Naquelas noites de tremendo cansaço, só frio e neve lá fora, quando muita coisa não tinha dado certo, chegava tarde e já não tinha mais comida, o aquecedor desligado, aiaiaiaiii,  quantas lágrimas rolaram! Pois é, nessas horas, eu descobri o grande valor dos pequenos detalhes de tudo que eu tinha em minha casa! Acho que, só mesmo indo tão longe, é que eu realmente compreendi o verdadeiro amor que une uma família!
     
      Nos dias de hoje, muita coisa mudou! Com a internet estamos conectados o tempo inteiro. Os jovens que estão indo estudar fora têm muita experiência em morar sozinho ou se virar sem os pais. Parece que morar em outro país é mais perto do que era antigamente. A globalização aproximou as fronteiras. Muitas vezes, com tanto brasileiro por lá, nem parece que se tornaram estrangeiros. A estrutura para alunos internacionais é muito boa, e eles sempre terão a quem recorrer. Tudo está muito mais fácil para eles.
      Mas, ainda assim, sei que haverá alguns momentos em que a saudade aperta, mas porque eu já vivi tudo isso, tenho certeza de que eles terão a convicção de tudo o que sua família representa. (tá certo que a saudade aperta muito mais do lado da mãe do que daqueles que estão de malas prontas, rsrsrsrs.)

      Com certeza, meu coração está muito mais apertado agora, ao ver meu filho indo embora, do que quando era eu quem embarcava.
        Bem, o que vou falar agora, pode parecer absurdo e ridículo para qualquer um que estiver lendo este post, mas tenho certeza que qualquer "mãe globalizada" vai sentir em algum momento. Existe uma pequena inquietação em nosso coração. Talvez, a tradução deste sentimento seja: "será que ele vai acabar se esquecendo de mim?"
        Para esses momentos é que compartilho uma grande verdade:  

         Eu sempre serei sua mãe. E, ele sempre será meu filho, independentemente dos quilômetros que nos separarem. Onde quer que esteja, ele sempre carregará meu DNA!

      (Verdade absoluta, da qual, nem que queiram, eles conseguirão escapar, rsrsrsrs!)

      
      

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