Como muitos têm me perguntado, hoje vou comentar sobre as minhas
impressões a respeito do curso de Medicina Einstein. Na verdade, passaram-se
apenas 2 meses e meio, mas já deu para perceber quão inovador e bem estruturado
está o curso.
Spoiler: só tem elogios!!! Confesso que estou encantada.
Bem, mas o que vou falar é a minha visão particular, como mãe de
aluna. Sou médica formada pela USP, então já vivi o que é ser estudante de
Medicina. Talvez existam algumas informações imprecisas, pois baseei-me apenas
nas observações que fiz acompanhando do lado de fora da sala de aula, apenas
ouvindo comentários dos alunos.
1) sobre os alunos:
Como já disse, minha filha faz parte dessa primeira turma de
graduação. Foram 50 alunos selecionados de quase 11.000 inscritos. O vestibular
foi bastante inovador, baseado em um método de seleção canadense, onde os
alunos com os melhores resultados em um vestibular tradicional são submetidos a
uma avaliação de características pessoais, em um sistema de múltiplas
mini-entrevistas (MME), valorizando-se os alunos que se destacam por sua ética,
comunicação efetiva, tomada de decisão, pensamento crítico, liderança,
maturidade emocional, resposta adequada às situações de estresse, trabalho em
equipe, etc.
Nesse pouco tempo de convívio, já foi muito perceptível o perfil
do grupo. São jovens extremamente pro-ativos, líderes, mobilizados e com alta
capacidade acadêmica mas que estão aprendendo a trabalhar em equipe. A maioria,
durante o Ensino Médio, foi destaque em suas escolas, mas agora é "muito
cacique para pouco índio". Muito interessante vê-los aprendendo a trabalhar
com colegas de potencial e personalidade semelhantes, onde todos buscam um
grande crescimento pessoal, muitas vezes querendo se destacar, uns mais que os
outros. É um grande aprendizado para a convivência profissional no futuro.
Algo em particular dessa primeira turma, é que eles precisam
fundar seu centro acadêmico, atlética, escolher mascote, criar logotipo, juntar
dinheiro para eventos, estabelecer parcerias, etc. Grandes desafios, idéias
incríveis, brigas internas, mas muita produtividade. Não têm veteranos, ou
seja, nenhum colega mais velho que lhes possa transmitir experiências e
vivências. Isso os fez buscar parcerias com muitas outras universidades, o que
vem ampliando o networking. Eles já conseguiram participar de vários projetos
importantes e, assim, vão conquistando seu espaço no mundo universitário.
2) metodologia
A Faculdade Albert Einstein usa a metodologia do TBL (Team Based
Learning) ao invés do Ensino tradicional. O aprendizado é centrado na
participação do aluno, os grupos são pequenos de 6 a 8 alunos, exige-se
trabalho em equipe e há feedback constante dos professores e dos pares. A formação tem
temas como Humanismo, Medicina de Família, Gestão e Liderança e Estágio
Optativo em Consultório, o que mostra o diferencial proposto pela instituição em
formar médicos com uma visão humanística e também líderes.
Para essas aulas de TBL, o aluno deve chegar com a matéria já pré-estudada, iniciando-se com uma prova de
sondagem. Logo a seguir, o grupo realiza discussão de casos e depois confronta suas conclusões com os outros grupos. Um sistema de ensino
bastante dinâmico, onde todos precisam participar. As avaliações são feitas
baseadas também nessa participação. As aulas puramente expositivas são raras.
O currículo foi idealizado após visitação a cerca de 15 melhores
Medical Schools do mundo, tais como Harvard, Columbia, Oxford, etc. Há mais de
3 anos trabalham com a elaboração do currículo, seleção e treinamento de
professores e metodologia.
Algumas outras faculdades de Medicina também estão deixando o
currículo tradicional e introduzindo uma nova metodologia. Mas, o problema que
muitas vezes ocorre, é conseguir fazer com que todos os professores, que já
estão habituados a dar aula do seu jeito, habituem-se facilmente à nova
proposta curricular.
3) tecnologia
Nas aulas de morfologia, cada aluno tem um computador, onde
acompanham as imagens, além dos microscópios.
No final de cada módulo, fazem um workshop de ultrassom, com 5 aparelhos de última geração.
Além dos recursos tecnológicos, que são fantásticos, imaginem por exemplo, uma
aula sobre punção guiada, onde eles precisaram puncionar uma uva que estava
submersa em um pote de gelatina de uva, usando o ultrassom. (Uau, até eu queria
fazer essa aula, rsrsrsrsr!)
Outro exemplo: assim que terminaram o estudo do aparelho
locomotor, foram ao Hospital para fazer um estudo de marcha (aquele exame em
que se faz uma avaliação computadorizada por meio de pontos de luzes colocados
nas articulações)
Enfim, têm à sua disposição, o que existe de mais avançado em
tecnologia. Não há limitação de aprendizado por falta de recursos.
Infelizmente as nossas melhores e mais tradicionais faculdades de
Medicina do Brasil estão sofrendo com a falta de verbas nas áreas de Saúde e
Educação. Por outro lado, a Faculdade de Medicina Einstein está passando
longe dessa crise econômica, até porque, ela é o projeto de prioridade da
Sociedade Israelita Albert Einstein atualmente.
4) laboratórios
Logo nas primeiras semanas, recebem um kit com uma grande
quantidade de material. Aprendem em bonecos, passar sonda, realizar manobras de
ressuscitação e outros procedimentos. Já fizeram aulas no laboratório de
simulação realística no hospital, onde os bonecos "reagem" por uma programação
computadorizada.
5) visitas às UBS
Se por um lado conhecem e se familiarizam com a medicina de última
geração, têm muitas aulas de humanidades e medicina de família. Vão às UBS e
fazem visitação nas casas dos pacientes, colocando-os em contato direto com a
realidade de vida daqueles que dependem da saúde pública.
6) professores
Este é um dos grandes diferenciais. Cada docente é um profissional
referência na área que irá ministrar aulas. Muitos são chefes de serviço no
próprio Hospital. Todos precisam possuir títulos de doutorado, no mínimo. Por
outro lado, seu vínculo com o aluno é muito forte. Ele os acompanha de forma
muito individualizada, sendo visível o orgulho que sente de seus pupilos. Houve
uma vez, em que o professor, ao levar seus alunos para a visita no hospital,
comprou e mandou entregar um chocolate Kopenhagen para cada um. O professor
responsável geral pela turma, entregou um livro de sua autoria para cada um
deles, com uma dedicatória individualizada e escrita de próprio punho. O
próprio presidente da Instituição também mandou entregar seu livro, com uma
dedicatória dizendo "sua presença nos enche de orgulho".
É claro, que existem os professores mais queridos e outros menos.
Mas os coordenadores do curso estão presentes o tempo inteiro, atendendo às
solicitações, acatando opiniões, inclusive mudando schedules diante das
necessidades propostas pelos alunos.
7) conteúdo
O curso é absurdamente puxado! Ouvi de muitos alunos:
"Puxa, eu achava que nunca estudaria tanto quanto estudei na
época do cursinho. Mas agora, com tantas atividades e estudo, também não sobra nada de tempo livre"
Além dos TBL, têm muitas provas. Algumas provas são bastante
semelhantes às provas de validação do diploma nos EUA, já pensando naquele
aluno, que porventura, desejar fazer sua residência fora.
8) iniciação científica
Com 2 meses de curso, a maioria da turma já está envolvida de alguma
forma, com algum projeto. Muitos, inclusive, já iniciaram seus trabalhos.
Logo no início do ano, os alunos receberam uma lista com todos os
projetos em que poderiam realizar a iniciação, especificando os professores
responsáveis, as áreas de atuação, o tempo de duração e o papel de cada aluno
na pesquisa. Tudo de forma bastante organizada. Pelo que soube, o aluno sempre
tem sido muito bem recebido pelo professor responsável, que lhes abre as portas
dos seus laboratórios, estimulando-os a desenvolverem os trabalhos científicos.
9) atividades extra-curriculares
- Eles podem fazer uma aula semanal chamada "food for
thought". Assim, quando a aula começa, eles só podem conversar em inglês.
Recebem um café da manhã e vão discutir em pequenos grupos algum artigo, não
obrigatoriamente com tema médico. Depois apresentam seu posicionamento para os
colegas. Essas aulas não são obrigatórias, tendo como objetivo fazer o aluno
aprender a conversar e expor suas idéias em inglês
- Quem quiser, pode participar de aulas de meditação.
10) código de ética
Assim como várias universidades americanas (e algumas
brasileiras), não é permitido agir de forma anti-ética. Isso inclui a proibição
de assinar listas para os colegas ou colar nas provas.
Bem, será que já elogiei o suficiente? heheheheheh
Estou muito feliz com a oportunidade que minha filha tem em fazer
parte desta faculdade. Nesse pouco tempo de curso, surpreendi-me não só com o
seu desempenho acadêmico, como também com tantas habilidades que vem
amadurecendo.
Enfim, acredito que essa faculdade tem tudo para se tornar
referência diante de tão alto nível de excelência na área.
Muito orgulho desses "betinhos" !!!
PS: Para quem não entendeu: Albert(inho) Einstein