segunda-feira, 30 de julho de 2018

Sonhar com o futuro


Há 3 anos coordeno os grupos PAIS OLÍMPICOS e PAIS PARCEIROS NO APRENDIZADO no facebook:
- grupo PAIS OLÍMPICOS: voltado para pais de alunos de alto potencial acadêmico. A maioria são jovens que participam de olimpíadas científicas, estudam muito e conquistam excelentes resultados. Sonham em estudar nas melhores universidades no Brasil e mundo afora
- grupo PAIS PARCEIROS NO APRENDIZADO: voltado para pais de alunos no início do processo de escolarização. 

Sou otorrinolaringologista e me considero uma médica apaixonada por EDUCAÇÃO. 
No consultório, cada vez mais atendo crianças com dificuldades na aprendizagem. No início deste ano, montamos um grupo multidisciplinar chamado APOIO AO APRENDIZADO. Somos profissionais de diversas áreas de atuação, mas todos focados em entender como a criança aprende, buscando caminhos para aquelas que apresentam dificuldades. 

Muitos me questionam sobre qual a diferença entre alunos com desempenho acadêmico brilhante, alunos que estudam o suficiente para passar de ano e aqueles que têm dificuldades reais na aprendizagem.

Se eu precisasse resumir em uma única palavra seria: SONHO
Acredito que o que motiva um aluno a se tornar brilhante é ele ter a ousadia de sonhar grande. Ele sonha que vai ganhar medalha em uma olimpíada e que depois vai participar de uma internacional. Sonha que vai estudar nas melhores universidades e que vai transformar o mundo! Ele acredita que tem essa capacidade e que para isso, basta se dedicar! Quando não conquista seu desafio, sofre mas se levanta e persiste em ir atrás de seu sonho. 

Infelizmente vejo muito desperdício de potencial. Existem milhares de alunos que poderiam chegar muito mais longe mas se acomodam em estudar apenas para passar de ano. São aqueles que só querem curtir o presente e enxergam o mundo através da tela do celular. O lema de seus pais é: "criar  os filhos para que eles sejam felizes".  O grande problema é que esses filhos não sabem o que é ser feliz. Acham que a felicidade se encontra no conforto, no bem-estar, na mordomia, nos bens materiais e na distância dos problemas ou dificuldades. Não sonham porque tudo está bom demais!

Por outro lado, vejo a luta imensa de alunos e famílias quando a criança apresenta um transtorno que atrapalha seu desenvolvimento. A dificuldade existe porque ela não consegue aprender na forma padrão que o ensino é apresentado na escola. As metas de aprendizagem, por vezes, são inatingíveis. Como sonhar grande se não conseguem nem o básico!

E, afinal, qual é o meu sonho?!
Eu tenho um sonho grande, talvez muito grande!
Eu sonho em MUDAR A CULTURA do nosso Brasil. Transformar os valores e a forma de pensar de cada família para que, independentemente das circunstâncias, toda criança comece a SONHAR. Sonhos de se transformarem em super-heróis capazes de mudar o mundo. Mas que para isso saibam que precisam batalhar demais. Será necessário muito treino, suor e lágrimas. 
E para que nós, pais, tenhamos condições de abrir portas de oportunidades para que essas crianças tenham espaço para desenvolverem seus sonhos, independentemente das condições próprias de saúde, sociais ou econômicas. 

Sabe o que é mais incrível?
É que não acredito que esse sonho seja inviável. Pelo contrário, tenho visto cada vez mais pessoas com esse mesmo sonho. 
E você, qual é o seu sonho?!




  

sexta-feira, 20 de julho de 2018

e agora?


Nossa, como é grande a emoção
Descobrir a gravidez,
sentir cada chute e ouvir seu coração.
Tantos sonhos e incríveis caminhos a planejar
Como será tudo, quando ele chegar?


E então, aquela tão frágil figurinha
em nossas mãos a descansar
Nosso coração inunda de amor
e o seu futuro ficamos a planejar

Eis que um dia,
Acontece algo que jamais imaginaria
Nem tudo é como a gente gostaria


Quantas incertezas pela frente
Novos caminhos, tudo é novo e diferente
Nada acontece como planejado
Precisamos  seguir para outro lado


E agora, como fazer?
Temos muito que aprender.
Em momento algum desanimar
Sempre acreditar e
continuar a caminhar

Nas mãos de cada um está
o poder de se reinventar.
Nada é desafio maior

Que o amor não possa superar.

domingo, 15 de julho de 2018

As não medalhas




nó na garganta
NÃO DEU!!!


lágrimas escorrem,
frustração, angústia, decepção.


Afinal prá que ter lutado tanto?
Acreditado que seria possível?


É justo?
Por que só dá certo para os outros?


Heim, Deus?
por quê?


Vácuo!
som do silêncio, sem respostas!
Revolta.
É como se tivesse sido traído


Tá, venham agora com aquela história de resiliência
De acreditar que existe motivo prá tudo isso.
Palavras prontas só para quem não tem mais o que falar!


Falar o quê?
Punhalada nas costas.
Quem disse que o esforço compensa?


......


Quero dormir e
só daqui uns anos acordar,
Então, estas palavras reler
tentando entender...


Eis que um dia acordo,
Lindo caminho construí,
nem mais cicatriz tem aquela dor,
mas muito mais beleza tem cada cor


Naquela época, pouca coisa da vida eu sabia
Quão grandes maravilhas conquistaria


Tanto esforço feito,
tantas portas fechadas na cara
tanto desvio a ser encontrado,
espinho fundo encravado,
calo nos dedos !


Quer saber?
Melhor caminho do que trilhei não haveria...
Se tivesse seguido o script inicialmente imaginado
certamente menos completo eu estaria


Reconhecer que as portas fechadas,
as medalhas não ganhadas,
os desvios pelos quais fui obrigado a trilhar
Tudo isso foi o combustível fundamental,
para que sonhos tão maiores pudesse sonhar
e vitórias ainda mais incríveis,

finalmente, chegasse a conquistar

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Formatura Caltech


Beca, capelo e cordão pendente
cada cor um significado diferente,
cheio de pompas e formalidade
em meio a tanta felicidade

quantas histórias a relembrar
nesses momentos a contemplar
todos aqueles com diploma na mão
e grande alívio no coração

E, nós, os pais, então
tudo é plena realização,
talvez mais para nós do que para eles
pois é finda essa grande missão

Ontem em nosso colo se aninhava,
e já, num piscar de olhos,
futuro brilhante se alinhava

Ah, quanta honra foi esse caminhar
momentos de rir e de chorar
Enfim, nova fase a começar
até outros novos sonhos conquistar

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Aventura de férias



          O plano era simples, eu e meu marido faríamos apenas uma pequena viagem de férias a Machu Pichu já que meu filho está no Vale do Silício fazendo um estágio e minha filha viajando pela Europa com a amiga.
          Saímos de São Paulo direto para Cusco, uma cidade que fica a 3400 m de altitude. Para fazer ciência, meu marido levou um oxímetro, aquele aparelhinho que se coloca no dedo e mede a saturação de oxigênio. A saturação normal deve estar acima de 90% , sendo que a média fica em torno de 98 a 99%.
          Quando viajamos para uma alta altitude, é comum haver uma queda dessa saturação que demora algumas horas ou até alguns dias para ocorrer a adaptação. Chegando lá, meu marido mediu a saturação dele que ficava em torno de 93% e a minha 74%. 
          De início, não acreditamos muito nesse índice, porque seria relativamente grave e eu não estava me sentindo mal, talvez apenas com um cansaço maior aos esforços como seria de se esperar. Esse mal estar é conhecido como Soroche.
          Mas estávamos é preocupados com um outro problema. Que azar! Na cidade havia uma greve dos professores e no dia seguinte uma paralisação geral. Assim tivemos alguns passeios cancelados e por causa desses inconvenientes, acabei fazendo pouco esforço físico. Mesmo assim, minha saturação não melhorava muito (Ahn! esse aparelhinho devia estar com algum defeito!)
          Já estávamos no terceiro dia . Tinha uma ladeira e eu subi extremamente ofegante. Meu marido ainda riu dizendo que nem os velhinhos subiam assim! rsrsrsr
          De noite já foi um pouco mais difícil subir um lance de escada dentro do hotel. Cheguei a conclusão de que talvez eu tivesse que fazer mais atividade física para melhorar meu condicionamento. Ainda me recusava a acreditar que meu corpo estava dando sinais de limitação.

          Desde que cheguei a Cusco eu estava com muita dor de cabeça. Tomava vários comprimidos, chá de coca, chá de muña e mesmo assim a melhora era parcial. Mas essa noite acordei pela dor de cabeça. Também estava muiitoooo cansada e comecei a tossir com um pouco de dor nas costas. Pela primeira vez percebi como eu estava exausta, até para respirar. Minha saturação já estava em 64%. Ops! Acho que o oxímetro está realmente funcionando!
          O plano de viagem seria ir para Machu Pichu de manhã. Decidimos que seria mesmo o melhor a ser feito, afinal Machu Pichu fica a 2400 m de altitude, então lá, possivelmente eu me sentiria melhor. Comentei com meu marido, que talvez, se eu não estivesse me sentindo bem, eu não o acompanharia no passeio e ficaria esperando em algum hotel por lá.

          Contratamos um motorista para nos levar até Ollantaytambo, de onde sai o trem para Águas Calientes, a cidade de onde parte um ônibus que leva a Machu Pichu. O que não sabíamos é que no trajeto subiríamos a 3800 metros antes de descer para 2400m. Puxa, nesse trecho de 2 horas a tosse piorou e comecei a ter mais dor para respirar. A dor de cabeça me deixava atordoada, mas finalmente chegamos ao nosso destino. 
          O trem demorou a partir porque havia bloqueio na ferrovia. Ficamos mais de 1 hora sentados no trem esperando a partida, então comecei a me sentir bem melhor. Minha saturação já estava em 82% e eu nem tinha dor de cabeça. Até agitava a cabeça, balançando-a e me sentindo livre da dor. 
          Finalmente o trem partiu e cada vez me sentia mais bem disposta. Chegamos a Águas Calientes e eu estava animada para o passeio. Puxa, mas estávamos com o cronograma todo atrasado. Nosso guia lá nos colocou para correr para não perder um dos últimos ônibus que nos levaria a Machu Pichu.
          Incrível! Eu consegui correr!!! (cansei bastante, é claro!)

          Começamos a caminhada pelas trilhas íngremes e fantásticas daquele incrível museu arqueológico inca. Meu marido falava se eu não queria parar, afinal, já tínhamos tirado a foto clássica. O guia estava empolgado e eu acreditei que estava bem. Faltava apenas meia hora para o passeio acabar, então fomos seguindo devagarinho. 
          A tosse voltou, com uma sensação de que tinha algo meio espumante dentro do peito. 

          Pegamos o ônibus de volta a Águas Calientes para pegar o trem de volta a Ollantaytambo. Puxa, seria uma viagem de primeira classe, com jantar e bebidas incluso. Tudo muito chique e romântico. Mas a estação estava lotada e os trens saindo com muito atraso.
          Era para embarcarmos às 19 hs, mas partimos às 22 hs!
          A programação seria voltar para Cusco ainda aquela noite, mas meu marido pediu ao nosso guia que encontrasse um hotel em Olliantaytambo porque já estava muito tarde para encararmos uma viagem de 2 horas subindo a Cordilheira dos Andes. Assim ficamos em um pequeno hotel ao lado da estação dessa cidadezinha. Tomei um banho revigorante e dormi.
          Acordei várias vezes a noite. A dor de cabeça incomodava demais e muito cansaço para respirar.
          Pela manhã a saturação chegou a 56%. Estava tossindo e comecei a expelir uma espuma rósea.

          BLÉIM BLÉIM BLÉIM!!!!

          Sinal de alerta: tosse com expectoração espumante rósea revela edema pulmonar. Já estava expelindo sangue com líquido pelos pulmões!!! O edema agudo de pulmão pode ser fatal se não tratado imediatamente.

          Meu marido conseguiu falar com um médico da região, mas que morava longe. O hotel nos encaminhou para o único centro médico da cidade. Uma enfermeira abriu a clínica e me colocou no oxigênio. Um lugar extremamente simples, mas uma enfermeira que sabia de todas as providências a serem tomadas. Aos poucos fui me sentindo melhor. 

          E agora?! Estávamos em uma minúscula cidade no interior do Peru. Nossa bagagem estava em um hotel de Cusco. Para chegar lá teríamos que conseguir transpor os 3800 m para chegar aos 3400 m. E eu nem conseguia manter minha saturação por 5 minutos fora do oxigênio. 
          O médico chegou, vindo da outra cidade. Avisou que já havia solicitado uma ambulância para minha transferência para o hospital de Cusco. Que maravilha, nosso problema estava solucionado!!!
          Eficiência deste médico? Bem, na verdade mais me pareceu receio em não saber como conduzir meu quadro! Cá entre nós, se a enfermeira era excelente, esse médico estava bastante inseguro e atrapalhado. 
          Algumas horas depois a ambulância chegou. (Desconfio que aquele carro seja chamado de ambulância só porque eu poderia ser transportada deitada e tinha balão de oxigênio!) 
          Enquanto estava sendo acomodada, vejo o médico fazendo uma selfie comigo!!! Uma criança se aproxima e lá vai outra selfie! A enfermeira vai descer da ambulância e ele pede para ela posar antes para uma foto!!!

          Aiaiaiaiai... justo eu, que odeio fotos!!!!

          No caminho, sirene ligada: uóóóó....uóóóó....uóóóó....
          Eu estava deitada em um colchonete que escorregava para cima e para baixo. Além disso a  maca também batia de um lado para o outro. 
          Teve um momento em que o motorista não brecou em uma lombada e eu voei lá dentro. Ganhei um roxo no bumbum.

          No caminho de subida daquelas montanhas, muita coisa começou a se passar em minha mente. Alguém já disse que na vida a gente precisa ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Comecei a entender esse significado:
          1) Ter filho é doar-se para a posteridade. Meus filhos já voaram de meu ninho e seguem seus caminhos. Sei que eles seguirão um belo caminho. Já me tornei desnecessária o suficiente para eles saberem se conduzir por suas próprias asas. Sei que já plantei minha semente e que eles vão perpetuar tudo que neles foi cultivado! Havia muita paz em meu coração pela certeza do amor que nos une. Uma verdadeira sensação de missão cumprida!
          2) Escrever um livro é doar-se para a sociedade. É contribuir para que esse mundo possa ser um pouquinho melhor. Os filhos perpetuam nossas sementes, mas a gente também tem que dar frutos. Puxa, que incrível, acabei de escrever um livro onde registrei tudo aquilo que aprendi durante a criação de meus filhos. Já está em fase de revisão final para publicação. Por um momento me veio à mente se a minha editora iria lançar um livro póstumo! Puxa, mas eu ainda tenho tantos planos para o futuro!
          3) Plantar uma árvore é retribuir à natureza. Decidi que não vou plantar uma árvore tão cedo, senão, né! Vai que de repente eu já cumpro com todas as minhas missões na Terra...


          Chegamos ao hospital de Cusco. Uma pequena clínica onde todos são extremamente atenciosos e prestativos. Sabiam perfeitamente como conduzir o quadro. Fizeram vários exames e a tarde dois médicos vieram me avaliar.
          A maioria das pessoas que viajam para altas altitudes em algumas horas já se adaptam à rarefação do ar. É raro, mas existem as que não se adaptam e eu fui exatamente uma dessas.
          Minha cura seria voltar para uma baixa altitude, mas para isso eu precisaria pegar o avião. O problema é que eu não conseguia manter minha saturação fora do oxigênio, então não conseguiria fazer o vôo de 1 hora até Lima (que fica ao nível do mar).
          Descobrimos que durante o vôo a pressurização alcançada em cabine é equivalente a 2400 m de altitude. Como faríamos?! Nosso vôo já estava marcado para a madrugada e do jeito que tudo caminhava, eu não teria condições de embarcar.
          Estava com um catéter de oxigênio no nariz e soro correndo com diversas medicações. Mesmo assim, só no tempo de ir ao banheiro minha saturação ficava em 72%. Então me sugeriram fazer uma sessão de câmara hiperbárica (um tipo de um tanque onde o paciente fica deitado inalando oxigênio 100% a uma pressão mais alta que da atmosfera). Possivelmente após esse tratamento eu conseguiria manter minha oxigenação. O problema é que não teria como fazer ainda aquela noite e possivelmente perderíamos nosso vôo.

          Percebi quanta boa vontade tinham todos os funcionários e médicos desse hospital. De alguma forma conseguiram encaixar um horário para eu fazer a sessão hiperbárica ainda aquela noite. Fiquei deitada por 1 hora dentro desse tanque. A única sensação ruim é a de pressão nos ouvidos.
          Bem, o desafio era manter minha saturação acima de 80%  em ar ambiente. Se conseguisse poderia ter alta.
          Yuhuuuu, consegui!!!
          Providenciaram a ambulância para nos levar ao aeroporto e embarcamos.
          Durante o vôo mantive 84% de saturação. Pousamos em Lima.
          Medi a saturação e, como por mágica, 99% !!!

          Havia então o desafio de mais 5 horas de vôo até São Paulo.
          Embarcamos novamente. A saturação que começou em 99% foi caindo aos pouquinhos e chegou a 89% . Desembarcamos e foi só pisar em terra que a saturação subiu para 98%!

          Incrível!!!! Acho que nasci com um altímetro embutido!
          Chegamos em São Paulo no domingo a tarde. Fui dormir mais cedo, afinal segunda-feira já voltaria a trabalhar.
          Ao acordar de manhã, caiu a ficha!
          Puxa, eu poderia ter morrido!

          Só tenho a agradecer a Deus:
          - A greve em Cusco não me permitiu fazer muito esforço físico. Por todas as inconveniências das paralisações, ocorreu um grande atraso do trem e por isso decidimos ficar em Ollantaytambo. Talvez se tivéssemos subido a Cordilheira ainda aquela noite como previamente combinado com o motorista, eu não teria sobrevivido.
          - A única clínica que havia em Ollantaytambo era muito próxima ao hotel. As instalações eram precárias, mas tinha oxigênio. Mesmo que o médico responsável não entendesse muito e só queria tirar uma selfie, a enfermeira sabia como agir.
          - Já em Cusco, mesmo sendo um pequeno hospital, o atendimento foi de excelência. Chamou-me a atenção o quanto as pessoas se importavam conosco e não só com a doença. Fizeram de tudo para eu melhorar e também para que não perdêssemos a passagem de avião que já tínhamos comprado.
          - Aprendi que tenho que reconhecer as minhas limitações físicas. Os sintomas e as doenças não acontecem só com os outros. Ainda bem que meu marido havia levado o oxímetro. Mesmo assim foi difícil eu acreditar que o quadro estava grave. Talvez se não tivéssemos medido a saturação, não teria tido tempo de buscar socorro.
          -  E enfim, ... Ufa!!!! Eu sobrevivi!

       











segunda-feira, 5 de junho de 2017

Pós-adolescente

          


          Há uns dias, ouvi um universitário se auto-denominando "pós-adolescente". Adorei o termo!
          Então, minhas palavras hoje são para vocês.
          Sei que às vezes dá vontade de jogar tudo para o alto!
          Cobranças e prazos; muito mais do que não se quer fazer e bem pouco do que se gostaria de fazer.
          Nunca ser compreendido sobre a falta de sentido de tudo que lhes é cobrado.
          E, ao olhar ao redor, descobrir que quem mais se dá bem na vida não são aqueles que fizeram tudo certinho!


          Então os convido a um momento de reflexão:
- Para onde vão todos os sonhos e ideais puros de uma criança?

- Em que momento aquela vontade de transformar o mundo se transforma em conformismo?
- Pior, quando ela começa a achar que é normal pisar nos outros para subir na vida?

Sempre falamos que a criança é egocêntica, a história de "o sol nasceu para mim". Mas isso ocorre simplesmente porque a criança tem um campo de visão muito pequeno. Ela só vê o restrito mundo que a cerca, onde todos estão voltados a atender suas necessidades.
A medida que ela vai crescendo, ganhando autonomia, ela vai descobrindo um universo que precisa dela, mais do que ela precisa de alguém. É o momento em que ela brinca vestindo uma fantasia e  acredita ser um super-herói para salvar o mundo. Ela sonha sempre com o bem vencendo o mal, e realmente acredita que poderá fazer um bem para a humanidade.
De repente, na adolescência, começa a conviver com sua "tribo". Talvez um primeiro teste de sobrevivência. Mesmo assim, ao sonhar com sua profissão, idealiza um projeto bom. Ninguém quer ser médico para ferir ou matar, nem um advogado para descobrir como burlar a lei ou um engenheiro para  destruir o mundo.
Por que tantos jovens dedicam-se tanto ao vestibular mas, ao serem aprovados, muitos se decepcionam e até desistem daquela faculdade? Qual o sentido de matarem aulas, colarem em provas e darem muito mais importância às festas, bebidas e drogas do que a própria vida acadêmica em si? Na verdade, ninguém precisa gostar de dissecar cadáver para se tornar médico, mas é essencial que se aprenda anatomia. Também não é preciso adorar cálculo para projetar uma ponte, mas se não tiver essa noção, muitas vidas podem se perder. Nem é preciso adorar decorar picuinhas de toda a legislação para defender o direito de um inocente, mas se não adquirir esse conhecimento, não exercerá sua função a contento. É fundamental que o aluno tenha uma formação bastante ampla, para construir uma base sólida. O problema é que nessa sociedade imediatista, parece que a carreira é que precisa agradar o aluno assim que ele entra na universidade.
É verdade que nem sempre a sociedade consegue evoluir na velocidade da transformação dos jovens. Os adultos parecem estar a anos-luz da fase em que um dia tinha que ter 24 horas para curtir a vida, 24 horas para dormir e, é claro que jamais esquecendo das responsabilidades, mais algumas horas para estudar!
A medida que vão adentrando no mundo adulto, a realidade da rotina sem encantamentos começa a apagar os sonhos?
Aquele super-herói com poderes incríveis e ideais sublimes descobre suas limitações e começa a buscar apenas interesses pessoais?

Quando foi que a sua essência se perdeu?

Pois é, quando pequeninas, as crianças acreditam em um senso de justiça e meritocracia próprios. Em sua lógica, elas acreditam que quem se dedicar merece a "recompensa" pelo esforço feito. No entanto, a medida que vão crescendo, percebem que nem tudo é tão simples assim. De repente, descobrem que existem outros que podem até ser melhores do que eles (alguns jamais haviam pensado nessa possibilidade). Muitas vezes, descobrem um mundo real e uma sociedade onde outros se apropriam, justa ou injustamente, de algo que eles tanto buscam e que lhes parecia seu por direito.
Então, em algum momento começam a desacreditar em seu poder de transformar o mundo. Deixam de sonhar e passam a correr apenas atrás de seus interesses pessoais. Diante da dura realidade, depara-se com uma sociedade corrupta, onde cada um só pensa em si. Infelizmente, vivemos a cultura do "levar vantagem", a famosa lei de Gérson. Vendemos a imagem que os mais bem-sucedidos são os que conseguem ser mais "espertos".

Não me admira ver tantas pessoas em depressão. Qual o sentido da vida para elas? Muitas não vivem, apenas sobrevivem. Perderam-se os sonhos, desacreditou-se no futuro. Não há mais esperança de poder transformar o mundo. É preciso batalhar muito para conseguir se adaptar ao presente. Todos vestem sua máscara de bem-sucedido e buscam bens materiais para fingir que tudo está bem.

Puxa, é muito triste ver tantos caminhando assim! Por isso, hoje gostaria de deixar um recado a vocês, pós-adolescentes, antes que comecem a vida adulta já sem seus sonhos:


- NÃO PERCA SUA ESSÊNCIA. Acredite que você pode fazer a diferença na vida de alguém e que o mundo pode ser melhor por sua causa. Não desanime no meio do caminho! Olhe para o futuro. Continue a sonhar! Hoje, talvez muito do que você esteja estudando ou fazendo possa não fazer sentido, mas fará parte de tudo no que você vai se transformar.

Acredite em você com a pureza de uma criança, sem se contaminar pelas inseguranças da sociedade.
O tempo passa muito rápido (eu que o diga! rsrsrsr). Não o desperdice sofrendo, reclamando, achando que nada vale a pena!
O futuro fica mais próximo daqueles que nele focam, acreditando que cada instante atual é só mais uma fase a ser vencida.
Ser "pós-adolescente" ainda é brincar de ser adulto. Dá para curtir muito, errar bastante mas é preciso construir um caminho!

domingo, 9 de abril de 2017

Suicídios na Medicina

 


O assunto hoje é bem denso!
        Recentemente ocorreram 3 tentativas de suicídio entre alunos da Faculdade de Medicina da USP (e ouvi dizer que ocorreram mais 5 outras tentativas nessa mesma turma, mas não tenho certeza do fato).
        Sou médica formada pela USP há quase 30 anos. Quando eu era caloura, fiquei chocada ao saber do suicídio de um aluno do 5º ano, no entanto, pior do que isso, foi descobrir que existia a piada do “um por turma” e que os alunos brincavam tentando descobrir quem seria o colega da sua própria turma.
        Esse índice também é alto no ITA e em outras universidades de excelência mundo afora.
        O que leva a esse ato de desespero?
        Ouço muitas vezes que a culpa é do próprio aluno:
          - Ah, ele devia estar em depressão!
          - Ele é que era “estranho”!
          - Tinha uma vida cheia de problemas…
        E por aí vai.
        Será?!
        Muitos desses estudantes são alunos brilhantes que estudaram a vida inteira e que provaram suas potencialidades ao passarem pelos vestibulares mais difíceis e nunca demonstraram nenhum perfil patológico, surpreendendo até às pessoas mais próximas, quando tentaram encontrar no suicídio a solução para suas angústias. Muitos estão envolvidos com diversas atividades acadêmicas e esportivas e mantendo alto nível de conhecimento científico. Em geral, são extremamente comprometidos com o paciente, sofrendo com eles a limitação da Medicina no combate à doença.
São jovens sonhadores que acreditam que podem abraçar o mundo e salvar a humanidade. Em pleno vigor da juventude querem participar de todas as festas, esportes e vida social. Por outro lado, preocupam-se com o futuro, em conseguir as melhores oportunidades para se tornarem os melhores médicos. Para isso precisam estudar demais!
        Desde pequenos eram acostumados a serem os melhores de sua turma, mas agora, nessas faculdades de elite, todos seus colegas são “os melhores”, então fica difícil se destacar entre eles. Mas ouvem sempre aquela voz interna de que precisa continuar sendo e fazendo o melhor. Em geral, essa cobrança é interna, mas muitas vezes, a família e o ambiente acadêmico também reforçam essas convicções. Diga-se de passagem, o ambiente em que vivem é verdadeiramente competitivo!
        Os professores que ensinam hoje, já passaram por tudo isso. Nós, médicos mais antigos, temos orgulho de contar as histórias de tanta dificuldade pelas quais passamos e superamos. Frases como “o diamante é uma pedra bruta que precisa passar por um enorme processo de lapidação até se tornar brilhante” torna-se para alguns uma inspiração.
        Lembro-me que falávamos que o médico era a pessoa mais "feliz" do mundo. Ficávamos hiper felizes quando conseguíamos almoçar! Puxa, ir ao banheiro a hora que a bexiga chamava nos dava uma incrível sensação de satisfação! Se pudéssemos dormir 8 horas por noite, com certeza foi porque fizemos algo tremendo para merecer tamanho privilégio! Assim, o médico era a pessoa mais feliz do mundo, porque a rotina era tão absurdamente extenuante, que só ter o direito de fazer qualquer dessas coisas mais triviais da vida já nos enchia de felicidade!
        Só que, às vezes ao apertar demais, o parafuso espana!
        Li alguns depoimentos de alunos que sentem essa pressão. São alunos que reclamam por estarem em seus limites. Dormir 4-5 horas por noite é a regra para alunos de Medicina. Eles não reclamam de que estudam demais, mas de que, apesar de estudar tanto, a prova exige algo que não foi o estudado, vindo então a FRUSTRAÇÃO. Se reclamam com os professores, ouvem que isso é importante para que eles aprendam que precisarão estudar assim a vida inteira. Que não basta ser bom, tem que ser “o melhor”.
        Em particular, os jovens que fazem Medicina lidam muito com o significado de vida e morte e tem hora que esse limite se torna muito tênue. Convivem com o sofrimento e a desesperança da doença. Os pacientes só contam seus problemas. Muitos alunos não conseguem criar uma “capa de autoproteção” para não se envolverem com aqueles que o procuram. E não existe um suporte das próprias faculdades para que os alunos aprendam a conviver com essas angústias. Pressupõe-se que cada um tem que ser forte o suficiente.
        Toda essa carga de stress acumulado, predispõe à doenças. Doente, o rendimento cai, mas o aluno não se dá ao luxo de ficar doente. Então vê sua produtividade caindo e se sente pior ainda.
        Como todos os alunos vivem o mesmo momento, o ambiente entre eles é tenso! O clima de desânimo, frustração e irritação vai gerando muitas discussões e conflitos. O espírito competitivo também pode influenciar, chegando ao ponto do clima entre os alunos ser mais de discórdia do que de identidade.
        Existe um momento que esse jovem não sabe mais o limite entre tudo o que precisa fazer, daquilo que ele é capaz de fazer naquele momento. Então, se desespera achando que nunca será capaz de se tornar um bom médico.
Com seu conhecimento e acesso a algumas drogas, por vezes chegam ao extremo.
        O que fazer?
          - Acredito que em primeiro lugar é preciso OUVIR o que eles têm a dizer, mas ouvir com mente e coração abertos. Jamais os enxergando como “crianças mimadas” que reclamam demais só para terem tempo para esportes e baladas. (Como se fosse crime, em pleno auge da juventude, desejar curtir um pouco a vida. Especialmente esses alunos, que muitas vezes por causa do vestibular, já postergaram tanto qualquer tipo de diversão!)
       - VALORIZAR cada um pelo que ele é. Muitos vivem uma fase de auto-estima abalada ao se compararem com seus colegas. Nesse ambiente competitivo, onde todos seus colegas são os melhores classificados em um dos vestibulares mais difíceis, eles não acreditam mais em suas próprias potencialidades.
Além do que, se conseguir vencer essa fase em que se sente um nada e chegar a alcançar um patamar de sucesso profissional, eventualmente, pode se tornar um médico arrogante. Como falar em humanizar o atendimento, se o médico se sente meio que “sobre-humano” por ter superado tantas dificuldades que qualquer ser humano “normal” não precisa ou não consegue superar?! (Seria essa a postura de alguns médicos mais velhos, ao não compreenderem porque esses mais jovens sofrem tanta angústia?)
          - Entender que atrás desse aluno de Medicina existe um jovem, cheio de energia e potencial, ACEITANDO suas opiniões. Ele tem sonhos (e quantos sonhos maravilhosos!). Ele acredita que pode contribuir de alguma forma para melhorar seu mundo e suas palavras não têm menos valor do que de alguém mais velho, só porque não têm a experiência da vida.
        Ouço muitas vezes que essa é uma "geração mimimi", que foram criados tendo tudo e agora, ao se depararem com uma dificuldade não suportam a pressão.
        PERA Aí! Quem criou essa "geração mimimi" foi a nossa geração! Nós demos aos filhos aquilo que muitos não tivemos. Se eles não estão preparados, foi nossa culpa. Por que os acusamos?
Como é que alguém pode debochar daqueles que estão em sofrimento extremo?
        Essa geração é maravilhosa em seus sonhos de criar um mundo melhor. São eles que se preocupam tanto com a ecologia, com os direitos das mulheres e com a desigualdade social. Talvez possam pensar assim, justamente porque foram criados com muito menos dificuldade. E se não conseguem lidar com determinadas cobranças, talvez seja justamente porque, graças a Deus, não sofreram tanto quando pequenos.
        A responsabilidade é da nossa geração, sim!
        Acredito ser preciso, tal qual o príncipe Willian se ajoelha para falar olho no olho com seu filho, também precisamos descer de nosso pedestal ao falarmos com os jovens.
        Puxa, dói demais em meu coração ao ouvir que um jovem, em ato de desespero tentou por fim à sua própria vida. Em especial esses jovens tão ricos em VIDA, que sonharam em se tornar médicos para lutarem contra a morte e melhorarem a saúde e a vida de seus pacientes.

Ficam aqui registradas minhas lágrimas e pedido de um novo olhar a todos eles.