sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Qualquer pessoa pode estudar fora?

      A primeira observação que tenho a fazer, é que estudar fora não é para qualquer um.
      Hoje em dia, está muito na "moda" fazer faculdade no exterior. Então, muitos entram nessa onda, mas sei de muitas pessoas que desistiram e voltaram, ou não se adaptaram e sofreram.

      A gente acha que tudo será maravilhoso. Cada vez mais ouvimos "propagandas" de universidades americanas tentando atrair jovens brasileiros. Na mídia só ouvimos histórias de sucesso. Estão surgindo inúmeras empresas que ajudam no processo de "application". Mas, fazer a faculdade inteira, significa no mínimo 4 anos. Significa que nosso filho será um estrangeiro, sozinho, longe de sua família e amigos, tendo que se adaptar a novos valores, costumes, comida, hábitos e sem um "colinho" para se encostar. As cobranças, a competitividade em uma sociedade meritocrática, as responsabilidades, tudo multiplicará a ansiedade.

      É necessário um grande auto-conhecimento para saber se estará pronto para este enorme passo. As histórias que ouvimos, em geral, são só dos que se deram bem. (Quem não se deu muito bem, não gosta de divulgar!)

      Então, essa decisão é muito pessoal. Envolve a personalidade de cada um e sua "adaptabilidade".

       Hoje em dia, muitos brasileiros vão fazer intercâmbio nos EUA. Fazem aulas de inglês em grupo (separados por nível), mas convivem basicamente com estrangeiros. No entanto, eu recomendaria, (se houver condições, afinal, em geral, custam bem caro!!!) fazer um "summer program" dos americanos. Existem inúmeras oportunidades, grandes universidades ou "academys" (high school de prestígio) fazem sua programação de verão. Para algumas, inclusive é necessário enviar um "application" para ser selecionado. Existem também, cursos organizados por empresas especializadas, que realizam "summer camps" em inúmeras universidades, como o IDtech Camps que meus filhos participaram (têm um custo um pouco mais acessível e não precisa de "application"). Pode-se também fazer algum programa de treinamento esportivo, música. Acredito que pesquisando, há um grande leque de possibilidades.
      Ao se conviver com os americanos, fica mais fácil imaginar como será se adaptar à vida deles.

      Toda universidade americana tem a possibilidade de ser visitada. Seria extremamente valioso, (se puder, é claro!), ao viajar para os EUA, programar uma visita guiada. Dá para conhecer o campus, muitas vezes guiados por um aluno que estuda lá, além de palestras explicativas. Cá entre nós, conhecer o campus das universidades é um bom programa de turismo, em geral, elas são maravilhosas!

     Outra informação que precisa ficar bem clara aos jovens que ganham bolsa por "esporte universitário". Muitos acham que vão só jogar e treinar com fazem aqui. Mas, a realidade é que o treinamento será extremamente intenso (aqui no Brasil, não se tem noção do que é treinar de verdade, algo como todo dia, a tarde toda e não só praticando o esporte, mas fazendo condicionamento físico e sendo cobrado por resultados) Além disso precisarão estudar muito e ter notas boas!!!
   
     Cada um precisa se conhecer e saber se será feliz ao mudar de país. Por tantas histórias de sucesso de alguns, e, também,  pela desilusão que vivemos com a Educação aqui no Brasil, acabamos achando que o bom aluno deve "aproveitar seu potencial" e fazer faculdade fora. Muitas vezes, esse é o desejo dos pais, professores e amigos, mas nem sempre do próprio aluno!

      Não projetemos em nossos filhos, os nossos sonhos e expectativas. Se esse não for um desejo autêntico deles, pode ser que acabem sofrendo.

      É preciso ter saúde, autonomia e muita estabilidade emocional!
   
      Imagina como será a vida deles sem a nossa supervisão ou cuidados? Muitos não comem direito, não dormem o suficiente e começam a beber.  De repente, podem ficar doentes. Nós, os pais, não estaremos por perto. Será que vão tomar o remédio direitinho?! Quem vai fazer uma "canjinha"? A quem eles vão recorrer para "fazer manha"?

      Pois é, estudar fora não é para qualquer um que quer e consegue passar. É preciso também ser capaz de se adaptar! Afinal, o que mais nos importa, é se serão felizes por lá!
   
   


   
   


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Carta ao futuro presidente...

      Caro futuro presidente, (independentemente de quem seja...)

      Meu coração se apertou muito ao assistir ao debate do dia 14/10.
      Dias atrás, minha filha, que acaba de completar 17 anos me falou:
       - Mãe, a sua geração acreditava que o Brasil seria o país do futuro... mas, a minha geração não acredita mais que esse país tenha jeito...!!!

      Ela está no 3º ano do Ensino Médio, vai prestar vestibular para Medicina. É uma das melhores alunas da primeira sala do Colégio Bandeirantes, um dos melhores colégios deste país... e fala de uma falta de perspectiva no futuro de nossa nação.

      Então, a gente assiste a um debate com os presidenciáveis e não se vê, nem ao menos, o sonho em fazer deste país, uma grande potência. Briga-se pela autoria de programas puramente assistenciais, onde se distribui o "bolsa família" e se contenta em capacitar o jovem a ter apenas o curso técnico (PRONATEC). Diz-se que fazer o "Ciência sem Fronteiras" leva o aluno a conhecer as "melhores universidades do mundo"... (diga-se de passagem, muitas universidades a que estes jovens são direcionados, são totalmente desconhecidas, e, muitos alunos, na realidade, vão para fazer turismo!). Mas, o pior é que, quando volta, não encontra condições de desenvolver o que aprendeu...

      Qual é a perspectiva que têm os jovens verdadeiramente promissores? Aqueles que se esforçam e se dedicam ao estudo? ... Os melhores alunos se empenham para tentar entrar na USP ou em algumas outras universidades de "prestígio" ... São poucas vagas, mas não conta a meritocracia... Alunos que têm notas menores entram, porque fazem parte da famosa "cota"...

      Vivemos em uma sociedade em que os bons alunos, de escolas particulares sofrem uma discriminação absurda... Só porque têm "condições de vida" não podem se valer de direitos iguais. Quem pertence a uma classe social inferior merece pontos a mais no vestibular!

      ... Quando um aluno mais "abastado" consegue passar, é "pura obrigação" visto que estudou em escola cara... Não se valoriza todo esforço, empenho e dedicação que têm...
      ... Quando não passam, ficam anos e anos sofrendo um stress absurdo, repetindo as mesmas aulas de tudo o que já aprendeu, só para conseguir disputar as pouquíssimas vagas das boas universidades.

      Imagina o quanto  seria produtivo, se ao invés disso, esse jovem estivesse dentro de uma boa universidade, podendo se desenvolver naquilo que realmente tem interesse...
      ...É, mas não temos uma política que visa construir universidades de alto nível... Nossa ênfase, é simplesmente, curso de Ensino Médio profissionalizante...
   
      Enquanto não valorizarmos a Educação de alto nível, viveremos em uma sociedade medíocre. AO NOSSO PAÍS, BASTA QUE O POVO NÃO PASSE FOME E TENHAM PROFISSÕES DE NÍVEL TÉCNICO...

      Nossas melhores universidades estão passando por uma crise financeira terrível. Não se investe no professor, para que a cada dia ele tenha maiores condições e prazer em passar seus conhecimentos. Os laboratórios e infra-estrutura estão em situações precárias. Greves que duram meses, sem se importar na qualidade do profissional que será formado...

      ...Não me admira que tantos alunos queiram estudar fora...

      Sou médica formada pela USP. Passei no vestibular com 16 anos.... Nessa época eu sonhava... Eu acreditava que meus filhos iriam viver num país melhor...

      Passaram-se 30 anos ... pouco mudou... A Cidade Universitária está mais velha... as reivindicações continuam as mesmas... O número de vagas e de universidades de qualidade continua igual...

      Ao futuro presidente, peço que mude a esperança dos jovens... Faça-os acreditar que os filhos deles terão um país onde a qualidade de vida seja excelente, que tenhamos nossas universidades, entre as melhores do mundo, que a saúde seja digna e os padrões éticos e morais sejam a característica mais marcante de nossa população...
      ...Não permita que aqueles poucos jovens com grandes sonhos, dedicados, esforçados e cujos valores são sólidos, deixem de acreditar...

      Que ao menos em sonho, possamos ter a perspectiva de que não seremos mais tão medíocres ...




quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Como é estudar na melhor universidade do mundo

      Hoje saiu o ranking das melhores universidades do mundo:                      
http://www.timeshighereducation.co.uk/world-university-rankings/2014-15/world-ranking

    A CALTECH  ficou em primeiro lugar, pelo 4º ano consecutivo. A USP, melhor brasileira classificada, ficou entre 201º e 225º . Qual a diferença?

      Meu filho foi aprovado na Poli (Escola de Engenharia Politécnica da USP), mas 1 semana após o início do curso, saiu sua aprovação na CALTECH e, obviamente, abandonou a Poli...

    Então, como é estudar na CALTECH?
    -  Em primeiro lugar, a seleção dos alunos é extremamente rigorosa. Este ano entraram apenas 226 alunos, somente 18 internacionais ( 1 único brasileiro:  meu filho, heheehheeh...).
    Durante o processo de seleção, eles escolhem rigorosamente o perfil do aluno que eles querem. Neste caso, o que mais vale na CALTECH,  é a excelência acadêmica.

   -  Todos os alunos do primeiro ano, devem morar no campus. Existe um programa intenso de entrosamento entre os alunos (inclusive, os 3 primeiros dias de "aula" são em um hotel na praia, com várias brincadeiras, alternando com palestras de orientação)
     Nos EUA, existem universidades em que o clima entre os alunos pode ser mais competitivo ou colaborativo. O que se busca na CALTECH é, dentro do possível, o ambiente colaborativo.

    -  Existem 8 "casas" , e, durante as 2 semanas iniciais, os calouros vão fazer um rodízio de atividades em cada uma delas, para depois decidirem qual a "casa" que vão escolher para ser seu dormitório. Na realidade, cada "casa" tem um perfil diferente, e cada aluno vai tentar se reconhecer em uma delas.

    -  Não se perde tempo com deslocamento ou transporte. Tudo que precisam fazer está dentro do campus (e tem de tudo lá dentro: de mercado a banco, refeitórios, livrarias, lanchonetes, piscinas, quadras, ambulatório médico, etc).

     - É uma universidade relativamente pequena (pouquíssimos alunos, comparando-a com Harvard, MIT ou Berkeley, por exemplo)... mas um campus bem grande ... e clima da Califórnia..... cidade pequena (Pasadena), próxima a uma bem grande (Los Angeles) .... perto da praia...
   
     -  São poucas horas de aula... muitos trabalhos, exercícios para serem resolvidos, livros para ler... Cada um vai sendo desafiado a se desenvolver ao máximo, tendo à sua disposição toda a estrutura de docentes, laboratórios ou  bibliotecas que quiser. A proporção de alunos por professor é de 3:1. Existe todo tipo de laboratório, em que o professor incentiva e estimula o aluno a participar ... de acordo com o interesse de cada um. São 33 professores ganhadores de prêmio Nobel.

     -  É imensa a área de esportes. A CALTECH faz parte da 3ª divisão da liga esportiva. Sendo assim, todos podem participar (diferentemente de quando a universidade faz parte da 1ª divisão, como nos casos das Ivy Leagues, onde o aluno, precisa ter um altíssimo nível como atleta, para fazer parte das competições).

      A programação de aula começa, em geral, lá pelas 9hs da manhã. Você escolhe sua grade de aulas. (não é necessário "madrugar"...)

      Não existe aula das 16-19 hs. Horário em que ocorrem todos os treinamentos esportivos, ou que os inúmeros "clubes" fazem suas atividades (existe todo tipo de "clube": música a capela, estudos religiosos, estudos linguisticos, robótica, "starwars", cubo mágico ...)
      Ou seja, todo mundo é envolvido em alguma atividade extracurricular.

      - É sagrado o "código de honra" deles:
      "No member of the Caltech community shall take unfair advantage of any other member of the Caltech community." 
(Nenhum membro da CALTECH pode levar vantagem sobre nenhum outro membro da CALTECH )
      Assim, por exemplo, o professor entrega ao aluno uma prova de 4 horas para ser realizada sem consulta. Todo aluno vai levar esta prova e resolver onde quiser, a hora que achar conveniente... e vai entregar depois ao professor.... SEM COLAR!!!!

      -  Existe um sistema muito extenso de "tutoria". Existe um professor orientador, além de alunos mais velhos e tutores responsáveis no dormitório... para os internacionais, existe também  um "international office". Essa orientação ampla, faz com que o aluno consiga direcionar bem seus estudos.

      - Todos são estimulados a produzir. Como nos EUA, as férias de verão são de 3 meses, todo aluno vai procurar aproveitar para fazer um "estágio" ou desenvolver um projeto. Na CALTECH  existe um programa chamado SURF - Summer Undergraduate Research Fellowship . São 10 semanas de projeto remunerado, em que se recebe  U$ 6000.

                Enfim, acredito que tenham mais inúmeras diferenças, mas, de uma forma geral, eu diria que, tendo em mãos os melhores alunos do mundo, oferecendo-lhes um ambiente tranquilo, acolhedor, onde se estabelece uma relação de colaboração entre os estudantes, servindo-os com uma rede dos melhores professores e pesquisadores mundiais, recursos financeiros para desenvolvimento de projetos... conseguindo acompanhá-los com tutores que os orientam, tendo um "código de honra" que os norteie... estimulando a produção, inclusive com boas remunerações... Como não ser a melhor faculdade do mundo???!!!