segunda-feira, 23 de junho de 2014

Descobrindo talentos

      Como você se vê daqui a 10 anos?
      Esta é uma, das muitas perguntas, feitas aos alunos entrevistados na última fase da seletiva para as bolsas da Fundação Estudar. A Fundação Estudar é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo  potencializar jovens talentos para que possam agir grande e transformar o Brasil. O programa de bolsas é o carro chefe da instituição. Há mais de 20 anos, seleciona os jovens mais brilhantes do país oferecendo bolsa de estudos para cursarem as melhores escolas do mundo e o convite para fazerem parte de sua comunidade de líderes.
      Na edição de 2014/2015 foram cerca de 30 mil inscritos que passaram por várias fases de seleção, que começam com testes on-line de perfil e raciocínio lógico, depoimento em vídeo, relatório de trajetórias e experiências do candidato. Em seguida passam por etapas de entrevistas on-line e dinâmicas de grupo. Os aprovados são entrevistados por ex-bolsistas e, finalmente vão para a fase final, para selecionarem cerca de 30 bolsistas.
      Na fase final, 5 candidatos de cada vez, ficam sentados à frente de uma platéia, sendo entrevistados por cerca de 10 ilustres personalidades brasileiras, como por exemplo, Jorge Paulo Lemann, André Esteves, Marcel Telles (diga-se de passagem, que representam grande parte do PIB nacional).
      Quem são esses jovens talentosos? Por que empresários tão ocupados interrompem suas rotinas para escutá-los?



      Não é incrível? Para nós, mães, tudo ainda é tão banal, a gente continua perguntando se estão suficientemente agasalhados, se comeram direitinho, a que horas vão voltar e a gente nem se dá conta de tudo que eles já conquistaram! Na verdade, não vemos a rotina deles como algo extraordinário.
      Em geral, nem nós, e nem eles mesmos, temos noção da dimensão dessas conquistas. Na verdade, como eles estão rodeados de tantos outros colegas que também conquistaram tanto e que batalham pelos mesmos ideais, a gente acha tudo isso muito "normal". Uns conseguem alguns feitos (por exemplo, as medalhas olímpicas internacionais), outros tentam caminhos diferentes (empreendedorismo, projetos sociais), sendo tudo isso apenas o dia-a-dia na vida desses jovens promissores. Para eles, empenho e dedicação se tornam hábitos normais. Não tem nenhum deles, por mais "brilhante" que seja, que conquistou algo sem se esforçar ao máximo. Mas, algo que me chama a atenção,  é que eles não se vêem como "grandes heróis". Até são "humildes" demais por sempre acharem que seu colega está mais preparado. Isso os motiva a continuar se esforçando.

      Algumas considerações:

      1) Como teria sido o caminho deles, se seus talentos não tivessem sido "descobertos"?
       Sou muito grata ao Etapa. Até os 10 anos, nós sabíamos que meu filho era um bom aluno, mas nem desconfiávamos que ele poderia chegar tão longe! Foi quando ele prestou o desafio ETAPA e ganhou uma bolsa de 100% para estudar lá. Vendo os exemplos de alunos que ganhavam muitas medalhas e viajavam o mundo para as competições internacionais, ele começou a se envolver com as olimpíadas científicas. O colégio sempre abriu oportunidades, proporcionando aulas de preparo para as provas, despertando interesse, estimulando e incentivando os alunos que participam dessas olimpíadas. Lá, encontrou sua "tribo". Muitos amigos com interesse em comum onde alunos mais velhos, com nível de olimpíadas internacionais, convivem com os que estão realizando as primeiras provas. As incríveis conquistas vão se tornando inspiração para os mais jovens, afinal se alguém tão próximo conseguiu, porque o mais jovem não seria capaz?
      São poucos os colégios que abrem oportunidades aos alunos que têm um desempenho acima da média. A maioria se preocupa apenas em dar uma boa assistência para que todos os alunos passem de ano, fazendo aulas de reforço e recuperação. Muitos "bons colégios" estabelecem uma média mais alta mas não têm programa extra-curricular para desenvolver talentos específicos.
      Infelizmente, existem muitos alunos que nem sabem de seu alto potencial.
   
     2) Chegando em um determinado nível, não basta "ser bom", tem que se dedicar.
      O que mais me surpreendeu em todo o processo de meu filho conquistar medalhas em olimpíadas internacionais, foi o fato de que existe muita gente muito boa! O processo seletivo para escolher a equipe que representará o Brasil em cada olimpíada é extremamente rigoroso. E são muitos alunos incrivelmente capacitados! Mas sabe o que realmente os identifica? Todos estudam demais.
      Quantas vezes não ouvimos que esses alunos são um "mito" , como se o que eles conquistaram foi só porque nasceram com um grande talento. Quase desmerecendo tanto esforço e dedicação. Ninguém imagina que são horas e horas resolvendo listas e listas. Em um ritmo muito acima do que eu jamais imaginaria ser possível a alunos tão jovens.
      Por isso que acredito que nenhum deles goste de ser rotulado como um "superdotado". Nada veio fácil. Todos se dedicam, ganham muitas medalhas, mas também sofrem várias decepções quando não conseguem determinados resultados. Aprendem resilientemente a se superarem, respeitando os colegas que conseguem melhores resultados.
      Diferentemente do que muitos pensam, estudar nem sempre é o que eles mais gostam de fazer.  Eles escolhem estudar, abrindo mão de tantas coisas que adorariam fazer. Deixam de lado diversos prazeres para se dedicarem à sua meta.
 
     3) Para alcançarem suas metas, todos estiveram cercados de "anjos" que os direcionaram. Esses "anjos" podem ter sido a família, a escola, um professor, uma instituição ou algum tipo de mentor. Não conseguem chegar tão longe sozinhos. Precisam de uma estrutura que os apóie e direcione no caminho a seguir.

      Concluindo:
      - Não é fácil descobrir talentos. Eu definiria esse talento como uma aptidão inata, uma facilidade específica. (talvez, somente neste contexto de "facilidade para aprender", poderíamos usar a palavra "superdotação")
      - É preciso muita dedicação e empenho, foco, determinação, força de vontade e abnegação para desenvolver esse talento
      - É preciso oferecer suporte para que esse jovem talentoso, que se dedica com paixão, consiga se desenvolver.

     Se desenhássemos uma pirâmide, eu diria que dentro de toda a população de jovens, só uma pequena parte de talentos são descobertos. Dentre todos os que conhecem seus talentos, só uma pequena parte se dedica para desenvolver seu potencial. Dentre todos os que se dedicam, só uma mínima parte encontra uma boa estrutura para direcionar seu caminho.
      Mas, mesmo assim, é incrível o número de jovens brilhantes!
   
      Quem sabe, um dia, o Brasil "acorde" para a educação e a gente não tenha mais tanto desperdício de talentos!
   


   

   
   

   

   
   


Nenhum comentário:

Postar um comentário