segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Faculdade no Brasil ou nos EUA?

   

      Vivemos uma fase de desesperança neste país, dia-a-dia, só se descobre mais corrupção e escândalos. O pior, é que sabemos que tudo que está vindo à tona, é só a ponta do iceberg. Tem hora, que a gente acha que é melhor "fugir" daqui!

      Temos 2 filhos, que estão no início da jornada de suas vidas. Escolhendo suas carreiras e vislumbrando qual o futuro pelo qual vão lutar.
      Meu filho, desde os 13 anos, optou por fazer faculdade nos EUA. Minha filha, devido a carreira que quer seguir (medicina) decidiu fazer a faculdade no Brasil.
   
      O que aconselhar aos filhos? Como os orientei até eles tomarem suas decisões? Meus conselhos e opiniões influenciaram suas decisões? Eles estão no caminho certo?

      Pois bem, fazer a faculdade aqui ou fora?
      Em primeiro lugar, não vale a pena ir para os EUA para as áreas de Medicina, Direito, Odontologia, Veterinária. Essas carreiras são consideradas pós graduação, ou seja, será necessário fazer 4 anos de graduação (undergrad), submeter-se a um processo de application mais concorrido ainda para fazer mais 4 anos da profissão escolhida (grad). A concorrência é muito grande e o custo altíssimo.

      Mas, em se tratando de áreas de Exatas, lá chamadas de  STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) ou Humanas, que se enquadrariam nas Liberal Arts, tudo dependerá de uma série de fatores. Vou falar de uma maneira bem genérica, mas que talvez elucide um pouco sobre porque temos a sensação de que quem estuda fora tem mais "sucesso".

      1) A maior diferença é que no Brasil presta-se um vestibular de acordo com a carreira escolhida. Nos EUA o aluno aplica para uma universidade, e durante o curso vai escolhendo a carreira com a qual se identifica. Assim, no Brasil, a maioria das faculdades têm uma grade muito "amarrada", sendo que as matérias são obrigatórias, muito teóricas e, em geral o aluno não consegue se identificar com a carreira. Já nos EUA, o aluno escolhe as matérias que irá cursar. Ele tem um grande leque de opções, além do que, tem até um período de degustação, podendo começar a fazer a matéria, desistir e mudar para outra dentro de um prazo pré-estipulado. Assim, ele consegue cursar o que desperta seu interesse. Lembrar que nas áreas de STEM, essas escolhas não são tão aleatórias, eles têm um "core" (núcleo) que precisam cumprir em cada semestre, dependendo da "major" (carreira) que optarem. A maioria dos alunos só precisará definir suas "majors" no final do 1º ou 2º ano.

      2) Os essays (redações) do processo de application são muito pessoais. Para escrevê-lo, o aluno precisa fazer uma grande reflexão sobre si mesmo, sobre o que quer da vida e o que vai buscar naquela universidade especificamente. Isso faz com que ele reflita e amadureça. Nos EUA todas as universidades são pagas. O aluno pode até ganhar uma bolsa, mas ele tem uma noção exata do custo dela. Mesmo que ganhe uma bolsa, estudar fora implica em um desafio enorme: de sair do país, desenvolver autonomia, conquistar novos amigos, viver longe da família, falar outra língua, etc. Isso significa que, ao optar por estudar fora, o aluno precisou ponderar muito e sua decisão implica em sair de sua zona de conforto, além do que, precisa conseguir arcar com os custos, refletir no quanto isso pesará para sua família, etc. Se mesmo assim optou por estudar fora, ele já fez uma grande auto-análise e considerações.
          Já o vestibular é massacrante. O aluno que quer entrar em uma boa faculdade aqui, abre mão de toda sua vida social para se preparar para a prova. Estuda e repete os mesmos exercícios, vira uma "máquina" de acertar as respostas, buscando entrar em uma escola pública, por ser a melhor e gratuita. Ao entrar na faculdade, ele sente que, finalmente pode aproveitar a vida ao máximo, seja indo para festas, curtindo a liberdade e os amigos e, em geral, sem a "pegação no pé" dos pais. Existe um conceito errôneo da faculdade "de graça": para muitos, sua postura seria um pouco diferente se tivesse que pagar a mensalidade, ou se soubesse seu verdadeiro custo (alguém sempre paga). Os que continuam na casa dos pais, têm uma grande mordomia, e talvez, não precisem ganhar tanta maturidade de vida. Assim não se preocupam tanto com sua carreira, vivem mais o momento.

      3) Vivemos um momento de inúmeras greves e falta de recursos para a Educação. Professores, funcionários e alunos descontentes, laboratórios e pesquisas sem recursos, escândalos nas universidades, denúncias de estupro. Tudo contribuindo para um ambiente de pouco estímulo aos estudos.
           Como se isso não bastasse,vivemos em um país, cujo princípio básico de crescimento profissional não é a meritocracia. De que vale tanta dedicação à faculdade? Respiramos a corrupção. Esses jovens crescem com a sensação de que quem se dá melhor na vida é o mais "espertinho". Tudo é uma questão de indicação e não de mérito.

          Talvez por isso, dá a sensação de que quem faz faculdade no Brasil busca apenas conseguir um diploma, por outro lado, quem vai prá fora, começa desde cedo a construir sua carreira para o futuro.
Talvez, se o aluno que opta por fazer a faculdade aqui no Brasil fizer toda essa auto-análise, ponderando os sacrifícios, tentando descobrir suas preferências e aptidões, também aproveitaria amplamente suas oportunidades. Na prática, eu diria que o jovem que estuda fora, amadurece mais cedo, domina melhor outras línguas, aprende a conviver com culturas diferentes e vivencia desafios não só acadêmicos, fazendo-o compreender melhor o conceito da globalização. Para muitas empresas, esse é um grande diferencial na hora da contratação.
         Importante ressaltar que as experiências de se estudar fora podem ser obtidas mesmo não se fazendo a graduação inteira fora. Existem muitos intercâmbios que, se bem aproveitados, podem trazer o mesmo nível de aproveitamento.
   
           Vejo muitos alunos com esse dilema. Gostariam de estudar fora, mas talvez não consigam passar ou não obtenham a bolsa necessária para tanto. Acabam sem saber se se dedicam ao vestibular ou se capricham nos applications e, muitas vezes, acabam não desenvolvendo bem nenhuma das duas opções.
          Ah, como eu adoraria ter uma bola de cristal!!!!
          Mas, a gente só conhece o caminho ao passar por ele.
         
       As pessoas de maior sucesso na vida não são as que sempre fizeram as melhores escolhas, mas aquelas que fizeram dar certo as escolhas feitas!




   

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A rotina na faculdade

      Passaram-se cerca de 2 meses que meu filho está estudando na Caltech.
      Enfim, ... como é a sua rotina?

      Estuda mmuiitoo, mas também está na equipe de tênis ( treina 2 horas por dia, todos os dias, sendo  2ª,4ª,6ª: treino de quadra e 3ª, 5ª e sábado: treino físico). Além de tudo isso, faz parte de um grupo "a capella" (aquele "coral" em que as próprias vozes fazem o som de instrumentos, com ensaios 2 vezes por semana, com 2 horas de duração).

      Fez muitos amigos, seu "roommate" (colega de quarto) é praticamente um irmão. Muitas festas... Várias madrugadas acordados... seja para as festas e conversas... seja para realizarem as imensas listas de exercícios (que aparentemente seriam impossíveis de resolver, caso fizessem sozinhos)...  Como já disse anteriormente, lá na Caltech, apesar de sempre existir um certo espírito competitivo, eles têm um perfil bastante colaborativo entre os alunos.

      Este ano entraram apenas 226 alunos (dos  6500 que aplicaram), sendo 18 internacionais. A média de nota no SAT foi 2230-2340 (de um máximo de 2400). Existe um grande número de alunos americanos descendentes de orientais (parece até o Etapa!... hehehehehh...). Como são apenas 2 brasileiros em toda a graduação, meu filho raramente fala o português.

     Na sua "casa" a vida é bastante agitada... Todos deixam as portas dos quartos abertas, para que haja bastante interação. Nessas "casas" existem os "freshman" (alunos de 1º ano) , mas também os veteranos... então as tradições vão sendo passadas a todos.

      A comida... bem, é a comida americana... Mas, se de início não era tão "apetitosa" assim  ... aos poucos, o paladar vai se acostumando...

      Outro dia foram comprar um sofá para o quarto... Pesquisaram e compraram de uma família que ia se mudar. Pagaram U$ 20 ... Pequeno problema, como levar para o quarto??!  Foram em 3 amigos buscar... carregaram "no braço" pelas ruas de Pasadena... até que chegaram no campus e o "caminhãozinho" da Caltech transportou até o alojamento...

       Vão aprendendo pequenos "truques", do tipo: se tirar a roupa da secadora, bem quente e logo dobrar, elas vão até parecer que foram "passadas"... (como se houvesse tanta preocupação com roupas amassadas...)
 
      Não são muitas aulas presenciais que têm que assistir,... mas para cada hora de classe, é necessário cerca de 4 horas de estudo individual, em média....

      As provas são entregues em um envelope lacrado. As que são sem consulta, deverão ser feitas sem consulta e entregues na data estipulada... Isso significa que cada um a fará na hora que quiser, onde quiser... mas sem consulta ... ( e realmente ninguém cola!!!)

      Já fez seus "midterms exams", provas de metade do trimestre. Na Caltech, como na maioria das universidades da Califórnia, o ano é dividido em  3 trimestres: outono, inverno e primavera. (Isso também significa que o pagamento da universidade e "housing"(moradia) são só para os 3 trimestres. Se durante as férias de verão, o aluno ficar para fazer o "SURF" : Summer Undergraduate Research Fellowships, um estágio de pesquisa de 10 semanas de duração e U$ 6000.00 de remuneração, ele deverá arcar com a sua moradia.)                  
   
      Nessas primeiras provas, o sistema adotado é o "pass /fail", ou seja, eles têm notas, mas elas não vão constar no currículo. Assim, durante essa fase de adaptação, mesmo que eles não tirem notas "brilhantes", isso não afetará a média deles (Nos EUA, dá-se muita importância para as notas. No currículo, um dos quesitos bastante valorizados é a média do aluno e a sua classificação em relação aos outros, por exemplo, se faz parte dos 5 ou 10 % melhores da turma...)

     Acho que, graças aos rigorosíssimos critérios de seleção do "application", os alunos da faculdade acabam tendo um perfil bem parecido... Cada um tem uma bagagem cultural, familiar ou de formação diferente... mas, os valores são bastante semelhantes. Isso ajuda muito no espírito de comunidade. Talvez, por isso, sintam-se em um ambiente tão favorável para desenvolver seus potenciais...

     Algo que para nós é muito diferente, é a participação dos pais. Existe um tipo de "associação de pais", que lá é chamado de "Caltech parents" (mas pelo que sei, na maioria das universidades os pais também são muito ativos). Existem várias reuniões e eventos para os pais participarem. Chegam ao ponto de montarem um "kit de sobrevivência" para as provas finais, onde colocam um monte de "tranqueira" (salgadinhos, docinhos...) em uma sacola, juntamente com um bilhetinho que eles solicitam que cada um dos pais envie para lá e entregam para cada aluno .... e, inclusive, muitas vezes "alugam" filhotinhos de cachorro para que os alunos "desestressem" e "sobrevivam" às provas finais...

      O que me deixa muito menos angustiada do que eu imaginei que ficaria, é o fato de ele estar hiper FELIZ,... realizado...
           
      A saudade é grande!!! Tinham que inventar um "Skype" que pudesse transmitir a sensação do "tato"... só ver e ouvir, tem hora que não é suficiente.... Gostaria de sentir o calor do seu abraço!!!! ... Mas, realmente nos dias de hoje, é muito fácil estarmos conectados! (apesar de 6 hs de fuso horário: falo "bom dia" pra ele, quando ele está indo dormir!!!! ). Ele também ainda se mantém bastante conectado com os amigos daqui... Enfim, não é porque foi estudar fora, que deixou de fazer parte da nossa rotina aqui...

   

   
   
   

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Premiação nas Olimpíadas Científicas

      Ganhar medalhas é sempre muito bom! Além de reconhecimento, serve de incentivo e estimula uma certa competitividade que incita o aprimoramento.
      Mas, vamos conversar aqui sobre as medalhas em olimpíadas científicas.

      Um momento marcante é a primeira medalha!
   
       UAU !!! Que emoção!!! Nem dá prá acreditar.
       Para os pais, então, NOOOSSSAAAA!!!! QUE ORGULHO!!!!!!
      Como é emocionante vê-los conquistar a medalha, divulgamos para todo mundo!

      E, mesmo para aqueles que receber medalhas já virou uma "rotina", esse é um momento de consagração, onde se sente que vale a pena se dedicar tanto aos estudos.
   
      Pois bem, qual a real importância destas olimpíadas?

      Muitos começam bem pequenos ainda. As olimpíadas começam para alunos de 3º ano do Ensino Fundamental, ou seja, a partir de uns 7 anos de idade. No começo, os que se destacam,  nem estudam especificamente para aquela matéria, fazem as provas porque a escola, os pais ou os professores incentivam.   
    Alguns só descobrem suas potencialidades ao serem premiados. Então, eu diria que, em um primeiro momento, a olimpíada ajuda a descobrir talentos.

      A medida que eles vão se envolvendo, o ambiente olímpico torna-se  "viciante". Alguns alunos começam realmente a "curtir" participar de olimpíadas científicas, assim como existem jovens que curtem participar de torneios esportivos. Nas escolas em que se valoriza o bom aluno, colocando em evidência as conquistas dessas medalhas, existe um ambiente que favorece a formação de turmas de amigos com esses mesmos interesses. Então, cada vez mais, esse aluno se dedica aos estudos porque seus amigos também o fazem.

       A medida que os anos passam, a "concorrência" vai aumentando. Quem quer ganhar medalha descobre que precisa estudar mais, porque sempre vai sentir que tem alguém mais preparado do que ele. Essa "competição" é o que propulsiona o desenvolvimento do aluno. Ele acaba querendo medalhas a nível regional, nacional, e até internacional. Quanto mais estuda e se prepara, mais descobre que precisa estudar.

      Sabemos também, que um dos caminhos mais conhecidos para se chegar a uma universidade americana, especialmente as  "top 10",  são as olimpiadas científicas.
      A maioria das universidades americanas valoriza muito as conquistas olímpicas. Um dos professores responsáveis pela seleção do MIT, comentou em um blog que eles realmente valorizam as conquistas em uma IMO (Olimpíada Internacional de Matemática) ou IPHO (Olimpíada Internacional de Física) porque se torna um parâmetro mais objetivo para comparar alunos do mundo inteiro. 
      Mas somente a participação em olimpíadas internacionais, mesmo com conquista de medalhas, não é suficiente. Hoje em dia, muitas universidades fazem uma avaliação mais holística. Buscam alunos com um perfil mais amplo, não somente intelectual. Querem alunos empreendedores ou que já fizeram alguma "diferença" no mundo. Buscam líderes ou pessoas que tenham o potencial de se tornarem "transformadores".

      Agora, como é que eles vão conseguir mostrar uma história de vida tão rica assim, se ainda são tão jovens?! Estudar para as olimpíadas consome tanto tempo que muitas vezes é inviável desenvolver qualquer outro projeto.

      Então, dedicar-se às olimpíadas não deve ser o único foco para quem quer disputar uma vaga nas melhores universidades. Quem se dedica às olimpíadas muitas vezes investe tanto tempo e energia, mas nem sempre consegue ir para uma internacional. Mesmo indo para uma internacional, não tem a garantia de que será aceito na sua "universidade dos sonhos".

     Mas, quem ama as olimpíadas, ganhará uma riqueza de conhecimentos tremenda. Tudo que adquirir, seja na forma de conteúdo ou experiências, fará parte de sua história de vida. Tem alunos que se dedicam ao esporte, ou à música, ou a algum outro tipo de habilidade. Da mesma forma, o olímpico desenvolve seu talento.

      Essa é a magia das olimpíadas científicas. O mundo dos olímpicos é fascinante para quem faz parte dele. Só quem vive nesse mundo entende quão viciante, extenuante e excitante é ser aluno olímpico. Eles têm seus "ídolos" e seus sonhos de conquistas. Mas, como em qualquer competição, nem todos conseguem alcançar o topo, e, mesmo alcançando o topo, nem sempre as universidades considerarão apenas o mérito olímpico.

      Assim, o mais importante é que cada um tenha a consciência de que tudo que acumular, será sua grande riqueza, e isso, ninguém poderá tirar deles!