terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Palestra: Quer fazer faculdade nos EUA?

   

      Há algum tempo, fiz uma palestra no Clube Ipê, para quem tinha interesse em saber como é o processo para estudar em uma faculdade americana.
      Abordamos 4 perguntas básicas:
      - Por que?
      - Quem?
      - Como?
      - Quanto?


1) Por que?
A meu ver, mais do que enumerar as oportunidades incríveis que uma faculdade americana proporciona, acredito que a resposta desta pergunta é muito pessoal. Sugiro que o jovem que pensa em estudar fora, reflita profundamente nas seguintes questões:
- Por que EU quero estudar lá?
- É só lá que alcançarei os meus objetivos?
- Tem que ser agora?
     O processo de application exige uma grande reflexão sobre “quem sou e aonde quero chegar”. Só quem tem essas respostas BEM CLARAS saberá escolher onde estudar e poderá apresentar um essay convincente que expresse tudo o que busca.
Lembrar que no Brasil existem excelentes universidades também. Para quem quer adquirir a experiência de estudar fora, é possível fazer a faculdade aqui e cursar um intercâmbio durante sua graduação. Existem intercâmbios mais completos que permitem, inclusive, a obtenção do duplo diploma. Em alguns casos, pode até ser mais vantajoso só fazer a pós-graduação ou MBA no Exterior.
Não vale a pena ir para os EUA nas áreas de Medicina, Direito, Odontologia, Veterinária e algumas outras. Essas carreiras são consideradas pós graduação, ou seja, será necessário fazer 4 anos de graduação (undergraduation), submeter-se a um processo de application mais concorrido ainda para fazer mais 4 anos da profissão escolhida (graduation). A concorrência é muito grande e o custo altíssimo.

A maior diferença entre estudar nos EUA e no Brasil, é que aqui se presta um vestibular de acordo com a carreira escolhida. Nos EUA o aluno aplica para uma universidade, e durante o curso vai escolhendo a carreira com a qual se identifica. Assim, no Brasil, a maioria das faculdades tem uma grade muito "amarrada", sendo que quase todas as matérias são obrigatórias, muito teóricas e, em geral o aluno não consegue se identificar com a carreira, especialmente no início da faculdade. Já nos EUA, o aluno escolhe as matérias que irá cursar. Ele tem um grande leque de opções, além do que, tem até um período de degustação, podendo começar a fazer a matéria, desistir e mudar para outra dentro de um prazo pré-estipulado. Assim, ele consegue cursar o que  realmente desperta seu interesse.

2) Quem?
      Estudar fora não é para todo mundo.
      É preciso saber morar sozinho, saber cuidar da própria saúde e saber curtir a vida e ser feliz, mesmo longe de todos os que sempre foram sua estrutura familiar e social. Não é só porque um aluno tem grande potencial acadêmico que deve estudar fora. Nem todos se sentirão completos e realizados ao morarem sozinhos. Muitos conseguirão um melhor desenvolvimento de suas metas aqui mesmo no Brasil. Também é necessário saber quem arcará com os custos. Se a família não tem recursos, é importante saber se esse aluno é apto a se candidatar a algum tipo de bolsa.

    Cada universidade americana tem um perfil diferente e buscam alunos com características específicas. A melhor opção para um aluno, pode ser totalmente diferente para outro. Tudo depende também das preferências pessoais, o chamado “fit”, ou seja, é necessário encontrar a universidade que se encaixa no jeito de ser de cada um.
Harvard e MIT são as mais famosas aqui no Brasil, mas, na realidade, existem inúmeros rankings de classificação e, de acordo com cada critério utilizado, as ditas “melhores faculdades” variam bastante. Entre as top estão as que fazem parte da Ivy League, um grupo de 8 universidades que, inicialmente, foi uma agremiação criada para reunir os times esportivos das universidades da costa leste dos EUA e que hoje em dia se tornou sinônimo de excelência acadêmica e admissão seletiva, formada por 8 universidades: Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Princeton, Universidade da Pensilvânia e Yale. Também são consideradas top: MIT, Stanford, Caltech, UC Berkeley e várias outras. Mas em cada área de interesse existem as que se destacam mais, independentemente da fama que têm.
Existem universidades muito grandes, que admitem mais de 12.000 alunos e outras bem pequenas, que selecionam apenas 250 por ano. A localização pode ser em cidade grande ou pequena, próximas a grandes metrópoles ou à praia, ou até mesmo, longe de tudo. Deve-se analisar se o clima pode influenciar, lembrando que existem cidades muito frias, onde neva muito (para alguns, esse clima frio pode atrapalhar demais na adaptação). Dependendo da universidade, é possível praticar esporte competitivo ou apenas recreativo. Existem inúmeras opções de atividades extra-acadêmicas. Tem algumas com uma grande comunidade brasileira, mas, por outro lado, estudar onde não se tem outros brasileiros pode favorecer uma integração plena com os próprios americanos. Algumas são mais voltadas à pesquisa e outras para o mercado de trabalho.
Para aqueles que praticam algum esporte a nível competitivo, existe também a possibilidade de ser admitido pelo talento esportivo. A cultura americana valoriza muito o esporte. Em geral, as faculdades fazem parte de ligas, sendo a NCAA (National Collegiate Athletic Association) a mais importante. Aqui elas são classificadas em 1ª, 2ª e 3ª divisão. Muitas das universidades de 1ª e 2ª divisão oferecem bolsas para quem pretende praticar o esporte universitário, mas é preciso comprovar ser atleta de alto rendimento, especialmente para ser admitido em uma universidade de 1ª divisão, cujo nível é quase profissional. A 2ª divisão também é extremamente competitiva. O aluno que faz parte dessas equipes treina por cerca de 4 horas diárias, além de competir quase todo final de semana.
Importante salientar que não há correlação entre o nível esportivo e o acadêmico, ou seja, em qualquer divisão esportiva, temos os mais diversos níveis de ranking acadêmico. As universidades que mais oferecem bolsas para esporte universitário, em geral são de 2ª divisão, e, nem sempre são tão fortes academicamente. Mas, em qualquer situação, o aluno sempre será cobrado para ter um bom desempenho nos estudos. Lembrar que por melhor esportista que seja, só será admitido em uma universidade academicamente top, o aluno que tenha um excelente currículo de notas e SAT. Em alguns casos, as melhores universidades no ranking acadêmico não oferecem bolsa pelo esporte, mas seu talento será extremamente valorizado, aumentando as chances de ser admitido.  
        
   No site http://www.collegeconfidential.com/ tem-se uma relação das universidades e as características de cada uma. É fundamental pesquisar, pesquisar e pesquisar, seja na internet, conversando com algum aluno/ex-aluno, ou, se possível, até visitando pessoalmente.
Analisando quais as universidades se adequam ao seu perfil, e fazendo uma análise sincera das reais chances de admissão, sugere-se classificá-las em:
      - MATCH: quando existe uma boa probabilidade de ser admitido
     - REACH: as que são extremamente difíceis de entrar, “the big dream”. Mas, se nem tentar, jamais será admitido.
      - SAFETY: quando existe altíssima possibilidade de admissão
      Alguns recomendam aplicar para 6 match, 2 reach e 2 safety.

Dessa forma, quem fizer toda essa reflexão, possivelmente será aceito na match. Quem sabe, consiga uma reach, seu sonho impossível. Mas se nada der muito certo, tem a safety garantida.
Portanto, esse é o “jogo”! Quem souber escolher bem para quais universidades aplicar,  é muito provável que garantirá sua admissão.



3) Como?
      Vou falar agora do processo de "application" propriamente dito. Dentre os itens mais importantes estão:
      - SAT ou ACT / TOEFL
      - currículo escolar e classificação
      - atividades extra-curriculares, essays, história de vida
      - cartas de recomendação: professores, diretor, técnicos
      - entrevistas

SAT ou ACT / TOEFL:
O SAT é uma espécie de ENEM americano. Ele pode ser feito aqui mesmo no Brasil, sendo disponíveis várias datas no ano. O aluno pode fazer várias provas e enviar apenas a melhor pontuação (mas a universidade tem como saber o desempenho em todas as provas realizadas). A melhor forma de preparação é estudar pelas provas anteriores. Existem muitos simulados na internet e material impresso para treinar. Para se ter uma noção sobre as possibilidades de admissão, deve-se comparar a sua própria pontuação com a média de pontos feitos pela maioria dos alunos aprovados em determinada universidade. Bem, é óbvio que para ser admitido nas top, a pontuação deverá ser extremamente alta. No site que citei acima, http://www.collegeconfidential.com/, existe uma relação onde se encontra a média de pontuação no SAT dos alunos que foram admitidos em cada universidade e no site https://www.collegeboard.org/ tem-se todas as informações sobre o SAT.

Existe uma outra prova chamada ACT. As informações estão no site: http://www.act.org/. As universidades consideram igualmente as duas. Na verdade, cada uma tem um estilo diferente e deve-se optar pela que se tem mais facilidade. No entanto, aqui no Brasil, o SAT é mais conhecido, tendo mais lugares para realizar a prova e, por isso acaba sendo o mais utilizado.

Já o TOEFL é o teste de proficiência em inglês. São vários locais de realização, em várias datas durante o ano. As informações estão no site: https://www.ets.org/pt/toefl  


Currículo escolar e classificação:            
      Um outro dado extremamente valorizado no application é a média de notas do Ensino Médio e sua comparação em relação aos seus pares, ou seja, se o aluno foi o melhor da turma, ou se fez parte dos 5%, 10% , 20% melhores. Esse aspecto é pouco valorizado no Brasil. Tomar cuidado porque alguns excelentes alunos se preocupam apenas com o SAT e as atividades extracurriculares, descuidando-se das notas escolares, especialmente nas matérias que não têm muito interesse, e isso pode diminuir sua média final.

Atividades extracurriculares, essays, história de vida:
      Não bastam apenas as classificações. Hoje em dia, a seleção é bastante holística, ou seja valoriza-se muito mais o que cada aluno é ou faz.
      Costumo imaginar a seguinte cena: um admission officer lendo milhares de applications. Então ele pega uma pasta e, de repente, ao abri-la, dela começa a se projetar uma imagem holográfica com um brilho gigantesco que o fascina:
      - Puxa, olha esse aluno! Olha tudo que ele já fez! Olha tudo que ele tem conquistado. UAU! ele é brilhante!
      Partindo-se do princípio de que todos os alunos que aplicam para determinada universidade tenham uma pontuação do SAT e classificação escolar semelhantes, talvez sejam as atividades extracurriculares e a forma como se escreve o essay, o ponto mais impactante no processo de application. Além de enumerar as medalhas em olimpíadas científicas (em geral, as olimpíadas internacionais são as mais valorizadas), algum projeto social ou de empreendedorismo ou alguma descoberta marcante ou pesquisa científica que tenha desenvolvido, o grande segredo é impressionar. Mas não bastam os feitos, é importante transmitir as características pessoais de valores, caráter,  “quem você é e aonde quer chegar”, mostrando suas reações e sentimentos diante dos desafios, das vitórias, das derrotas e das frustrações.


Costumo dizer:
  • Reflita um pouco e analise o que faz de você uma pessoa brilhante, tão brilhante que faça uma universidade desejar que você faça parte dela. Que a faça querer investir na sua formação te capacitando a fazer a diferença no mundo. O segredo é mostrar o quanto você é bom e demonstrar seu potencial de transformação, seja de si próprio, daqueles que vivem ao seu redor ou da sociedade como um todo. Transmita que tudo que você faz é com grande paixão. Que você sonha grande e não desiste. Não importa o quanto precise batalhar, você não esmorece. Prove que não se cansa, e mesmo que tropece, você é capaz de se reerguer. Quando você mostra essa história de vida, o jogo vira. Diversas universidades começam a te disputar. Algumas até oferecem oportunidades incríveis através de bolsa ou regalias. São as universidades que querem ter o privilégio de ter você como aluno. E, ao final, é você quem vai poder escolher onde irá estudar!

Puxa, maravilhoso,não?! Assim até parece fácil! Está revelado o segredo: é só ter uma história de vida impressionante e saber como contar!


Cartas de recomendação: professores, diretor, técnicos:
      Bem, quanto às cartas de recomendação dos professores e do diretor, a maior dificuldade é saber a quem pedir para escrever. Estas cartas precisam ser coerentes com tudo aquilo que foi apresentado no essay. A universidade quer saber como o professor enxerga esse aluno e quais são as impressões não só sobre a vida acadêmica, mas também como esse aluno age e pensa. Eles estão buscando conhecer através do olhar de outro educador se o aluno vai se adequar ao perfil da universidade. Essa carta precisará descrever impressões pessoais e analisar fatos cotidianos que demonstrem os valores ou posturas diante de determinadas situações. No caso de quem tenta o esporte universitário, será necessário acrescentar vídeos e recomendações de técnicos.
Aqui no Brasil são poucos os professores que sabem como escrever uma carta desse tipo. Existem escolas que já têm a experiência em mandar seus alunos para fora, então muitos professores já estão habituados. Nos casos em que isso não ocorre, é preciso conversar muito com os professores para que eles entendam como escrever. Em geral são solicitadas 2 cartas de professores e 1 do diretor. O recomendado é que o aluno não tenha acesso ao que foi escrito.

Entrevistas:   
      Algumas universidades solicitam uma entrevista a todos, outras solicitam apenas aos alunos por quem têm mais interesse. Elas podem ocorrer por telefone, por skype ou por algum ex-aluno aqui mesmo no Brasil. Após um bate-papo de cerca de 1 hora, o entrevistador envia um relatório sobre a impressão que teve ao conversar com o candidato. Costuma-se dizer que ninguém é reprovado por causa da entrevista, mas ela pode ajudar a contabilizar pontos para que seja admitido. É uma grande oportunidade para se mostrar tudo que já fez e expor suas paixões e anseios para estudar naquela universidade. Se for uma entrevista pessoal, recomenda-se cuidar da sua aparência e levar uma pasta organizada com certificados, fotos, medalhas, etc.
  
4) Quanto?
      Estudar em uma faculdade americana pode custar, por ano, entre U$ 20,000 - 25,000 até U$ 50,000 - 60,000  (já incluindo anuidade, moradia, alimentação, seguro saúde e alguns outros gastos básicos). Uma boa universidade custa em média U$ 40,000 a 50,000. As top chegam a U$ 60,000. E, em geral, são 4 anos de duração.

      Existem 2 tipos de bolsas que as próprias universidades concedem:
  • merit based (por mérito): esportivo, acadêmico, artístico…
  • need based (por necessidade).  Em geral, são somente as top acadêmicas que concedem bolsas por necessidade. No entanto, dependendo da universidade, solicitar a bolsa pode dificultar as possibilidades de admissão. Assim, elas se subdividem em:
-  need blind: não influencia nas chances de admissão
-  need aware: eventualmente, pode diminuir sua chance de admissão.
O critério de necessidade é avaliado após o envio de um formulário onde se apresenta dados do imposto de renda e custos que a família tem. A universidade é que qualifica qual o valor de bolsa a ser oferecida. Em alguns casos, esse valor pode até ser negociado.

      Algumas instituições, tipo FUNDAÇÃO ESTUDAR, ou outras organizações também oferecem bolsas. Também é possível trabalhar nas universidades, seja na cozinha, nos escritórios, em projetos de pesquisa remunerados ou como teacher assistant (auxiliar do professor). Existem vários outros tipos de bolsas específicas que uma ou outra universidade concede. É preciso pesquisar sempre para saber quais oportunidades surgem. Algumas oferecem bolsas parciais a todos estrangeiros ou pode haver algum tipo de seleção específica para concorrer a bolsas. Mas, na verdade, a maioria precisará é de "PAITROCÍNIO".

      Para entender melhor, o raciocínio é o seguinte:
Para quem é um "fenômeno acadêmico" e for aprovado em uma top:
  • se comprovar que não tem como pagar, provavelmente conseguirá bolsa total  
  • quem provar que precisa apenas de bolsa parcial, receberá bolsa parcial
  • quem não conseguir comprovar necessidade de bolsa, pagará integralmente

      Para quem é muito bom no esporte:
  • Poderá cogitar a bolsa como atleta universitário (lembrar que a maioria consegue bolsa de 50%, mas tem faculdades não tão renomadas, cuja anuidade chega a apenas U$ 20,000-25,000. Assim, o custo fica semelhante ao de faculdades particulares no Brasil).
  
      Outros:
  • Se apresentar um bom application, possivelmente será aceito em algumas universidades, só que é bem provável que não receberá bolsa. Nesses casos precisará mesmo é de “paitrocínio”.



CONCLUSÃO:
Todo o processo de application é extremamente desgastante. Quem realmente se decidir por aplicar, precisará se dedicar demais, porém deve estar preparado para receber um “NÃO”. A maioria também se prepara para os vestibulares e ENEM, como um “plano B”, caso não seja aprovado em nenhuma universidade fora ou se a bolsa for insuficiente para cobrir os custos.
Pois é, mas algumas vezes nada dá certo e o aluno se sente frustrado. Pode ser que não tenha sido aprovado em nenhuma no Exterior, ou a bolsa foi insuficiente e também não tenha passado em nenhuma faculdade no Brasil.
Então vou contar um segredo: nesses casos, pode-se usar uma palavra “chique” para definir o que vai fazer no ano seguinte: GAP YEAR.  
Hehehehehh… Brincadeiras a parte, muitos transformaram seu gap year em uma das fases mais importantes de suas vidas, quando amadureceram suas metas de vida e redimensionaram a importância de suas decisões. Tem quem opte por se preparar melhor para o vestibular no Brasil e também os que utilizam este tempo para realizarem projetos novos, preparando-se para aplicar para fora mais uma vez..

Só quem sonha grande se lança a grandes empreitadas. Mas é preciso imensa dedicação. Não basta ser bom aluno. Uma vez, alguém já disse que sonhar grande ou pequeno dá o mesmo trabalho, mas acredito que só quem persiste e batalha muito é que conquista seu sonho, e, às vezes, sonho grande dá mais trabalho ainda!!! O processo é extremamente longo e não dá nenhuma certeza de resultados. Não basta ousar sonhar. É preciso se lançar ao desafio com paixão, apostando todas as fichas, sem ter a mínima garantia de que tudo dará certo. A cada ano, mais alunos conquistam suas vagas, comprovando que nada é impossível! No entanto, o número de alunos que aplicam aumenta progressivamente, levando a uma concorrência ainda mais acirrada.

Nem todos que se dedicam tremendamente são aprovados, mas todos os que são aprovados se dedicaram tremendamente.
     

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Faculdade no Brasil ou nos EUA?

   

      Vivemos uma fase de desesperança neste país, dia-a-dia, só se descobre mais corrupção e escândalos. O pior, é que sabemos que tudo que está vindo à tona, é só a ponta do iceberg. Tem hora, que a gente acha que é melhor "fugir" daqui!

      Temos 2 filhos, que estão no início da jornada de suas vidas. Escolhendo suas carreiras e vislumbrando qual o futuro pelo qual vão lutar.
      Meu filho, desde os 13 anos, optou por fazer faculdade nos EUA. Minha filha, devido a carreira que quer seguir (medicina) decidiu fazer a faculdade no Brasil.
   
      O que aconselhar aos filhos? Como os orientei até eles tomarem suas decisões? Meus conselhos e opiniões influenciaram suas decisões? Eles estão no caminho certo?

      Pois bem, fazer a faculdade aqui ou fora?
      Em primeiro lugar, não vale a pena ir para os EUA para as áreas de Medicina, Direito, Odontologia, Veterinária. Essas carreiras são consideradas pós graduação, ou seja, será necessário fazer 4 anos de graduação (undergrad), submeter-se a um processo de application mais concorrido ainda para fazer mais 4 anos da profissão escolhida (grad). A concorrência é muito grande e o custo altíssimo.

      Mas, em se tratando de áreas de Exatas, lá chamadas de  STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) ou Humanas, que se enquadrariam nas Liberal Arts, tudo dependerá de uma série de fatores. Vou falar de uma maneira bem genérica, mas que talvez elucide um pouco sobre porque temos a sensação de que quem estuda fora tem mais "sucesso".

      1) A maior diferença é que no Brasil presta-se um vestibular de acordo com a carreira escolhida. Nos EUA o aluno aplica para uma universidade, e durante o curso vai escolhendo a carreira com a qual se identifica. Assim, no Brasil, a maioria das faculdades têm uma grade muito "amarrada", sendo que as matérias são obrigatórias, muito teóricas e, em geral o aluno não consegue se identificar com a carreira. Já nos EUA, o aluno escolhe as matérias que irá cursar. Ele tem um grande leque de opções, além do que, tem até um período de degustação, podendo começar a fazer a matéria, desistir e mudar para outra dentro de um prazo pré-estipulado. Assim, ele consegue cursar o que desperta seu interesse. Lembrar que nas áreas de STEM, essas escolhas não são tão aleatórias, eles têm um "core" (núcleo) que precisam cumprir em cada semestre, dependendo da "major" (carreira) que optarem. A maioria dos alunos só precisará definir suas "majors" no final do 1º ou 2º ano.

      2) Os essays (redações) do processo de application são muito pessoais. Para escrevê-lo, o aluno precisa fazer uma grande reflexão sobre si mesmo, sobre o que quer da vida e o que vai buscar naquela universidade especificamente. Isso faz com que ele reflita e amadureça. Nos EUA todas as universidades são pagas. O aluno pode até ganhar uma bolsa, mas ele tem uma noção exata do custo dela. Mesmo que ganhe uma bolsa, estudar fora implica em um desafio enorme: de sair do país, desenvolver autonomia, conquistar novos amigos, viver longe da família, falar outra língua, etc. Isso significa que, ao optar por estudar fora, o aluno precisou ponderar muito e sua decisão implica em sair de sua zona de conforto, além do que, precisa conseguir arcar com os custos, refletir no quanto isso pesará para sua família, etc. Se mesmo assim optou por estudar fora, ele já fez uma grande auto-análise e considerações.
          Já o vestibular é massacrante. O aluno que quer entrar em uma boa faculdade aqui, abre mão de toda sua vida social para se preparar para a prova. Estuda e repete os mesmos exercícios, vira uma "máquina" de acertar as respostas, buscando entrar em uma escola pública, por ser a melhor e gratuita. Ao entrar na faculdade, ele sente que, finalmente pode aproveitar a vida ao máximo, seja indo para festas, curtindo a liberdade e os amigos e, em geral, sem a "pegação no pé" dos pais. Existe um conceito errôneo da faculdade "de graça": para muitos, sua postura seria um pouco diferente se tivesse que pagar a mensalidade, ou se soubesse seu verdadeiro custo (alguém sempre paga). Os que continuam na casa dos pais, têm uma grande mordomia, e talvez, não precisem ganhar tanta maturidade de vida. Assim não se preocupam tanto com sua carreira, vivem mais o momento.

      3) Vivemos um momento de inúmeras greves e falta de recursos para a Educação. Professores, funcionários e alunos descontentes, laboratórios e pesquisas sem recursos, escândalos nas universidades, denúncias de estupro. Tudo contribuindo para um ambiente de pouco estímulo aos estudos.
           Como se isso não bastasse,vivemos em um país, cujo princípio básico de crescimento profissional não é a meritocracia. De que vale tanta dedicação à faculdade? Respiramos a corrupção. Esses jovens crescem com a sensação de que quem se dá melhor na vida é o mais "espertinho". Tudo é uma questão de indicação e não de mérito.

          Talvez por isso, dá a sensação de que quem faz faculdade no Brasil busca apenas conseguir um diploma, por outro lado, quem vai prá fora, começa desde cedo a construir sua carreira para o futuro.
Talvez, se o aluno que opta por fazer a faculdade aqui no Brasil fizer toda essa auto-análise, ponderando os sacrifícios, tentando descobrir suas preferências e aptidões, também aproveitaria amplamente suas oportunidades. Na prática, eu diria que o jovem que estuda fora, amadurece mais cedo, domina melhor outras línguas, aprende a conviver com culturas diferentes e vivencia desafios não só acadêmicos, fazendo-o compreender melhor o conceito da globalização. Para muitas empresas, esse é um grande diferencial na hora da contratação.
         Importante ressaltar que as experiências de se estudar fora podem ser obtidas mesmo não se fazendo a graduação inteira fora. Existem muitos intercâmbios que, se bem aproveitados, podem trazer o mesmo nível de aproveitamento.
   
           Vejo muitos alunos com esse dilema. Gostariam de estudar fora, mas talvez não consigam passar ou não obtenham a bolsa necessária para tanto. Acabam sem saber se se dedicam ao vestibular ou se capricham nos applications e, muitas vezes, acabam não desenvolvendo bem nenhuma das duas opções.
          Ah, como eu adoraria ter uma bola de cristal!!!!
          Mas, a gente só conhece o caminho ao passar por ele.
         
       As pessoas de maior sucesso na vida não são as que sempre fizeram as melhores escolhas, mas aquelas que fizeram dar certo as escolhas feitas!




   

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A rotina na faculdade

      Passaram-se cerca de 2 meses que meu filho está estudando na Caltech.
      Enfim, ... como é a sua rotina?

      Estuda mmuiitoo, mas também está na equipe de tênis ( treina 2 horas por dia, todos os dias, sendo  2ª,4ª,6ª: treino de quadra e 3ª, 5ª e sábado: treino físico). Além de tudo isso, faz parte de um grupo "a capella" (aquele "coral" em que as próprias vozes fazem o som de instrumentos, com ensaios 2 vezes por semana, com 2 horas de duração).

      Fez muitos amigos, seu "roommate" (colega de quarto) é praticamente um irmão. Muitas festas... Várias madrugadas acordados... seja para as festas e conversas... seja para realizarem as imensas listas de exercícios (que aparentemente seriam impossíveis de resolver, caso fizessem sozinhos)...  Como já disse anteriormente, lá na Caltech, apesar de sempre existir um certo espírito competitivo, eles têm um perfil bastante colaborativo entre os alunos.

      Este ano entraram apenas 226 alunos (dos  6500 que aplicaram), sendo 18 internacionais. A média de nota no SAT foi 2230-2340 (de um máximo de 2400). Existe um grande número de alunos americanos descendentes de orientais (parece até o Etapa!... hehehehehh...). Como são apenas 2 brasileiros em toda a graduação, meu filho raramente fala o português.

     Na sua "casa" a vida é bastante agitada... Todos deixam as portas dos quartos abertas, para que haja bastante interação. Nessas "casas" existem os "freshman" (alunos de 1º ano) , mas também os veteranos... então as tradições vão sendo passadas a todos.

      A comida... bem, é a comida americana... Mas, se de início não era tão "apetitosa" assim  ... aos poucos, o paladar vai se acostumando...

      Outro dia foram comprar um sofá para o quarto... Pesquisaram e compraram de uma família que ia se mudar. Pagaram U$ 20 ... Pequeno problema, como levar para o quarto??!  Foram em 3 amigos buscar... carregaram "no braço" pelas ruas de Pasadena... até que chegaram no campus e o "caminhãozinho" da Caltech transportou até o alojamento...

       Vão aprendendo pequenos "truques", do tipo: se tirar a roupa da secadora, bem quente e logo dobrar, elas vão até parecer que foram "passadas"... (como se houvesse tanta preocupação com roupas amassadas...)
 
      Não são muitas aulas presenciais que têm que assistir,... mas para cada hora de classe, é necessário cerca de 4 horas de estudo individual, em média....

      As provas são entregues em um envelope lacrado. As que são sem consulta, deverão ser feitas sem consulta e entregues na data estipulada... Isso significa que cada um a fará na hora que quiser, onde quiser... mas sem consulta ... ( e realmente ninguém cola!!!)

      Já fez seus "midterms exams", provas de metade do trimestre. Na Caltech, como na maioria das universidades da Califórnia, o ano é dividido em  3 trimestres: outono, inverno e primavera. (Isso também significa que o pagamento da universidade e "housing"(moradia) são só para os 3 trimestres. Se durante as férias de verão, o aluno ficar para fazer o "SURF" : Summer Undergraduate Research Fellowships, um estágio de pesquisa de 10 semanas de duração e U$ 6000.00 de remuneração, ele deverá arcar com a sua moradia.)                  
   
      Nessas primeiras provas, o sistema adotado é o "pass /fail", ou seja, eles têm notas, mas elas não vão constar no currículo. Assim, durante essa fase de adaptação, mesmo que eles não tirem notas "brilhantes", isso não afetará a média deles (Nos EUA, dá-se muita importância para as notas. No currículo, um dos quesitos bastante valorizados é a média do aluno e a sua classificação em relação aos outros, por exemplo, se faz parte dos 5 ou 10 % melhores da turma...)

     Acho que, graças aos rigorosíssimos critérios de seleção do "application", os alunos da faculdade acabam tendo um perfil bem parecido... Cada um tem uma bagagem cultural, familiar ou de formação diferente... mas, os valores são bastante semelhantes. Isso ajuda muito no espírito de comunidade. Talvez, por isso, sintam-se em um ambiente tão favorável para desenvolver seus potenciais...

     Algo que para nós é muito diferente, é a participação dos pais. Existe um tipo de "associação de pais", que lá é chamado de "Caltech parents" (mas pelo que sei, na maioria das universidades os pais também são muito ativos). Existem várias reuniões e eventos para os pais participarem. Chegam ao ponto de montarem um "kit de sobrevivência" para as provas finais, onde colocam um monte de "tranqueira" (salgadinhos, docinhos...) em uma sacola, juntamente com um bilhetinho que eles solicitam que cada um dos pais envie para lá e entregam para cada aluno .... e, inclusive, muitas vezes "alugam" filhotinhos de cachorro para que os alunos "desestressem" e "sobrevivam" às provas finais...

      O que me deixa muito menos angustiada do que eu imaginei que ficaria, é o fato de ele estar hiper FELIZ,... realizado...
           
      A saudade é grande!!! Tinham que inventar um "Skype" que pudesse transmitir a sensação do "tato"... só ver e ouvir, tem hora que não é suficiente.... Gostaria de sentir o calor do seu abraço!!!! ... Mas, realmente nos dias de hoje, é muito fácil estarmos conectados! (apesar de 6 hs de fuso horário: falo "bom dia" pra ele, quando ele está indo dormir!!!! ). Ele também ainda se mantém bastante conectado com os amigos daqui... Enfim, não é porque foi estudar fora, que deixou de fazer parte da nossa rotina aqui...